Tenho uma amiga portuguesa que é um achado... pelo bom humor, pelo jeito de ser que só traz boa energia. Ela foi de viagem à Lisboa e me mandou essa fotos, lindas...
Dicionario Brasileiro / Português
O brasileiro tira o "fone" do gancho e diz: "Alô?" O português pega o "auscultador" e diz "Estou!" Um acontecimento no Brasil É um facto em Portugal Chope=Imperial (Sul), Fino (norte) Camisa do jogador de futebol=Camisola Salpicão - salada com frango defumado Salpicão - linguiça defumada Banheiro - Quarto de banho Açougue - Açogueiro Talho - Talhante Fila - Bicha Ônibus - Autocarro Trem - Combóio Toca-fitas - Leitor de cassetes Tela (TV,Comp)- Écran Terno - Fato Menino - "puto" Meias masculinas-Peúgas Cueca - Boxer Multa - Coima "meia" - 6 (seis) Galera -Turma Embarcação=Galera Usuário=Utilizador Xerox=Fotocópia Caça comprida=pantalona Legal, maneiro=fixe (pronuncia-se "fiche") Pistolão (gíria)=Cunha (gíria) Cafezinho=Bica, Biquinha Bala=Rebuçado Elegante=Gira Restaurante=Casa de Pasto Suco=Sumo Xícara=Chávena Quadrinhos=Banda Desenhada Drink=Bebida Time=Equipa / clube Parada=Demora Torcida/Claque O que está na moda =Altamente Maravilhoso , jóia =Bestial Muito=Bué Mulher Tagarela =Galinha (no Brasil, galinha é uma palavra feia quando usada para uma mulher) O que não tem nada a ver=Bacorada Burro = "uma anta"=Calhau Vai plantar batatas! / Vai catar coquinhos! / Deixe-me em paz! Desampara-me a loja ! / Vai comer palha! Pessoa Estúpida / "Casca Grossa" Tulho Dedurar / Dedo duro Chibo Pessoa sem conhecimento do assunto Nharro / gandarro / massaro Falar pelos cotovelos = Falar demais Ir por água a baixo =Não dar certo Dar o braço a torcer=Recohecer um erro Piada seca - Piada seca - "bacorada que um tulho diz!" Mistura de burro com o casca grossa Pigmeu - "mistura de tulho com calhau! " animal emocionante axé (pronuncia-se aché) = energia positiva "Diga aí meu Rei! " =Dizer o que deseja Mané ou Zé Mané = Otário, um bobo O bicho pegou =Ficou complicado Viajou na maionese=Não entendeu nada Leseira/Preguiça Troncho (a)/desarrumado Jaburu / Tribufu / Tanque/Mulher Feia Ficar de Olho/Vigiar Chorar de barriga cheia/Reclamar sem motivos Aeromoça/Hospedeira de Bordo Água Viva/Alforreca Água Sanitária/Lixívia Âncora do Telejornal/Pivot (Pivô) Apostila/Sebenta ARO DE RODA (de automóvel) Jante (ex.: jante de 15 polegadas = roda aro 15) Band-aid/Penso Rápido Banho / Chuveirada /duche Banho de Banheira/Banho Bilhão ( quantidade)/Mil milhões, bilião Biscoito Champagne/Palitos de La Reine Bonde/Eléctrico Cair a ligação telefônica/Vir abaixo Caixa Postal/Apartado Camiseta/T-Shirt Carteira de Identidade/Bilhete de Identidade Carteira de Motorista/Carta de Condução Pixaim, cabelo ruim/Gadelha Câmbio (automóvel)/Mudanças Caminhão/Camião Colar nas Provas/Cabular / Baldar Cabular aula / a escola/Faltar a escola propositalmente Concreto/Betão Concreto Armado/Betão armado Coxim (automóvel)/Chumaceira (Cozinhar até ficar) CROCANTE /(Cozer até ficar) ESTALADIÇO Creme de Leite/Natas DESCARGA (de banheiro) /Autoclismo (do quarto de banho) DUBLAGEM (de filme, de programa de tv) /Dobragem ENCANADOR (ou "bombeiro", expressão usada no RJ) Picheleiro, ou Canalizador ESCANTEIO (futebol) /pontapé de canto Estrada Asfaltada-Estrada alcatroada Faixa de Pedestre -Passadeira Favela - Bairro de Lata Fermento Biológico-Femento Padeiro Freio (carro) -Travão Funilaria / Lantern -Bate-chapa Fusca -Carocha Geladeira -Frigorífigo Gramado -Relvado Goleiro -Guarda-redes Grampeador -Agrafador Hodômetro-Conta-quilómetros Inflável-Insulflável Jaqueta-Blusão Limpador de para brisa Escova limpa-vidros Lonas de freios-Maxilas Maiô -Fato de banho Mamadeira-Biberon Mamão-Papaya Marrom-Castanho Necrotério-Morgue (Óleo) Diesel-Gasóleo Painel (carro)-Tablier Pão Francês-Carcaça Pedágio-Portagem Pedestre-Peão Perua -Carrinha Pessoa Física-Pessoa Singular Ponto de Onibus-Paragem Pé de Pato -Barbatanas Placa do Carro-Matrícula (ddd) -Indicativo Salva-vidas-Nadador Sanduíche-Sandes Secretária Eletrônica Atendedor de Chamadas Tanque de combustível-Depósito Chapinha (refrigerante) Cápsula Celular-Telemóvel Térreo-Rés do chão Teto Solar-Tejadilho de Abrir Torque (motor)-Binário Trecho (da estrada)-Troço Venda a varejo-Venda a retalho Vitrine-Montra (vitrine também se usa) Viva voz (para os carros)-Mãos Livres Filézinho ou Sanduiche de Filé-Prego "viajar na maionese" -"andar a apanhar papeis" Bisnaga (Pão)-Cacete Patricinha /Mauricinho-Betinha / Betinho Fofocar / Tricotar-"Estar na costura" Falar mal de alguém-"Cortar na casaca" Barbeiro (motorista ruim) Azelha ( mal condutor) Friaca (muito frio) - Hoje esta uma friaca Briol - Hoje esta um briol! No Brasil ficamos resfriados Em Portugal, constipados
É impossível gostar de si rejeitando uma parte sua que lhe é inerente, querendo tirar e jogar fora. É como rejeitar a si mesmo. É querer ser algo que não se é. Originalidade é um bem que vence o tempo.Brasileiros precisam entender profundamente Portugal, para entenderem profundamente a si mesmos. Só assim poderão gostar genuínamente de si, porque esse "Olha como somos maravilhosos!!!", desculpe, não me convence, quero mais. Quero aquele gostar de si tranquilo de quem não precisa desesperadamente convencer a ninguém. E está tão bem consigo mesmo que consegue olhar em volta e perceber os outros. Portugueses e brasileiros, a meu ver, deixam de simplesmente SER para medir forças. Toda a sua estreita visão consiste em captar os que estão "acima" e os que estão "abaixo" de nós. Esse blog tenta, de maneira ainda nem tão ideal, mas tenta, ampliar essa visão e deixar tudo mais colorido e interessante. Seja bem vindo(a).
LIBERDADE
The only freedom which deserves the name is that of pursuing our own good in our own way, so long as we do not attempt to deprive others of theirs, or impede their efforts to obtain it. Each is the proper guardian of his own health, whether bodily, or mental or spiritual. Mankind are greater gainers by suffering each other to live as seems good to themselves, than by compelling each to live as seems good to the rest.
John Stuart Mill, On Liberty, 1859English economist & philosopher (1806 - 1873) "A ÚNICA LIBERDADE QUE MERECE ESTE NOME É A DE PROCURARMOS O NOSSO PRÓPRIO BEM À NOSSA MANEIRA, DESDE QUE NÃO TENTEMOS PRIVAR OS OUTROS DO SEU, OU FRUSTRAR OS SEUS ESFORÇOS PARA O ALCANÇAR. CADA UM DE NÓS É O MELHOR GUARDIÃO DA SUA PRÓPRIA SAÚDE, SEJA ELA CORPORAL, MENTAL OU ESPIRITUAL. A SOCIEDADE ACABA POR GANHAR MAIS PERMITINDO QUE CADA UM VIVA À SUA MANEIRA QUE OBRIGANDO-O A VIVER À MANEIRA DE OUTRO".
Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho
Alberto Caeiro
Ás vezes tenho idéias felizes, Idéias subitamente felizes, em idéias E nas palavras em que naturalmente se despegam... Depois de escrever, leio... Por que escrevi isto? Onde fui buscar isto? De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu... Seremos nós nesse mundo apenas canetas com tinta Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
Álvaro de Campos
Queriam-me casado, cotidiano, fútil e tributável? Queriam-me o contrário disso, o contrário de qualquer [coisa? Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. Assim, como sou, tenham paciência!
Álvaro de Campos...
O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de, vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo.. Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência, E a única inocência não pensar... Alberto Caeiro
Eu amo tudo que foi, Tudo que já não é, A dor que já não me dói. A antiga e a errônea fé, O ontem que dor deixou, O que deixou alegria Só porque foi e voou E hoje é já outro dia. [Poesias Coligadas/inéditas]
Segue o teu destino, rega a tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias. A realidade sempre é mais ou menos do que nós queremos. Só nós somos sempre iguais a nós próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre viver simplesmente. Deixa a dor nas aras como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta está além dos deuses. Mas serenamente imita o Olimpo no teu coração. Os deuses são deuses porque não se pensam. Ricardo Reis
A conversa dentro da conversa dentro da conversa.
Conversa à beira do càis
Crônica de Mário de Andrade, 1938 (...nada mudou...) Outro dia, dia útil, almocei com um amigo num dos restaurantes do mercado do Rio. Talvez tenha me excedido na moqueca de peixe, excelente. Sei que me senti bastante completo, com desejo de ficar só, como nos momentos raros de perfeição. Por isso, meu amigo tendo seus afazeres e eu nada, me despedi gostosamente dêle, e fiquei banzando, pensamento entrecerrado, pelo cáis da Praça Quinze. Olhava o mar que se descortina dali, curto, sem a menor oceanidade.Foi quando se aproximou um homem, isto é, não se aproximou não,quando ele falou comigo pus reparo num homem debruçado no parapeito do cáis.Apontando uma barca rapida que entrava comentou que decerto estava cheia de taínhas. Não sei por que sentimento de complacência fui perguntando ao homem qualquer coisa sobre a pesca de taínhas, si não era feita de noite, si a barca então saira na véspera e vinha atrasada, ou si, marupiara, chegava primeiro, nem lembro. O homem secundava manso, com forte acento português, mirando o mar. Era operário,de fato português com apenas dois anos de Brasil e nenhum conhecimento de taínhas. De repente parou a frase, meio que se virou me olhando pela primeira vez e perguntou: _ Êtes-vous français? _ V' oui, que eu falei, com uma espontaneidade tão absurda que nem pude me divertir com a pergunta. E esta era perfeitamente maluca: nada tenho de francês nem no corpo nem na fala. Donde vinha aquele portuga me pensar francês! Porém nada me divertia, estava era espaventado com a espontaneidade da minha mentira. E logo imaginei com primaridade acomodatícia: A resposta fôra um puro reflexo de vaidade, pois não tinha dúvida que me timbrava como elogio pelo ser inteiro, aquela invenção do operário. A conversa continuou em francês e, está claro, desde então dirigida cuidadosamente por mim. Quis logo saber si o homem estivera na França (sim), quanto tempo (dois anos), em que cidade (Lião, Marselha). Sobretudo os lugares em que o operário estivera, me preocuparam muito no começo, pra não coincidir com êles nalguma resposta. Então me situei desafogadamente ao norte, em Paris onde nasci, no Havre e em mais duas ou três invenções que meu juízo reputou bem pobres geograficamente. Depois fui consertando com paciência a invencionice: meu pai é que era bem francês, viera ao Brasil, servira como gerente numa casa de sêdas em São Paulo (hoje me envergonho da associação de imagens larvar: Lião-sêdas), e se casara afinal nesta São Paulo com uma senhora paranaense que, pra viver em São Paulo, fiz ser filha de militar. Foram em viagem de núpcias para a França e eu nasci em Paris, voilà. Minha mãe fez questão de me registrar no consulado, mas educado num liceu de Versalhes (gostei de Versalhes que aumentou a geografia), tendo pasado a mocidade em França, me sinto muito mais francês que brasileiro. De resto, estava no Brasil apenas de passagem, colhendo uma herança curta (fiz questão do "curta" pro homem não me pedir dinheiro) e voltava dentro de uns três mêses. Então metemos o pau no Brasil. Mas fiquei logo com vontade de me vingar do companheiro e meti o pau em Portugal, por causa do fachismo. Mas o português me ajudou. Então meti o pau na França, meti o pau na Europa e, é incrível! Não uso de patriotices, mas não sei o que me deu: me deu uma vontade enorme de elogiar o Brasil, fiz. Êle aceitou, com indiferença, meus comentários sobre a doçura, apesar de tudo, desta nossa vida brasileira. De vez em quando eu argotizava com aplicação pra me anaturalizar bem francês. Ele, por si, contou uma história labiríntica que me pareceu muito mal contada em que entrava uma mulher bastante rica apaixonada por ele, mais a filha dela e com a mesma paixão. Tudo de uma imoralidade exemplar, certos detalhes!... De repente, tive a noção absoluta de que o homem estava mentindo. Enguli a mentira toda bem quietinho. E concebi concomitantemente o pensamento de que talvez êle já me perguntasse si eu era françês por simples mentira, apenas pra poder contar sua estadia verdadeira em Marselha e Lião. Mas fui bêsta, botando importância em mim, e ele êle tivera que esperar aquela conversalhada, pra achar ouvidos que escutassem o seu mundo imaginário de sexualidades escatológicas. Estava tão distraídonestas dúvidas, que a conversa entreparou, desiludida. O operário aproveitou a estiada e se despediu tocando levemente o chapéu. Isto é, boné. Os Filhos Da Candinha, Martins Editora.
Clarice Lispector
O homem parecia ter desapontadamente perdido o sentido do que queria anotar. E hesitava, mordia a ponta do lápis como um lavrador embaraçado por ter que transformar o crescimento do trigo em algarismos. De novo revirou o lápis, duvidava e de novo duvidava, com um respeito inesperado pela palavra escrita. Parecia-lhe que aquilo que lançasse no papel ficaria definitivo, ele não teve o desplante de rabiscar a primeira palavra. Tinha a impressão defensiva de que, mal escrevesse a primeria, e seria tarde demais. Tão desleal era a potência da mais simples palavra sobre o mais vasto dos pensamentos. Na realidade o pensamento daquele homem era apenas vasto, o que não o tornava muito utilizável. No entanto parece que ele sentia uma curiosa repulsa em concretizá-lo, e até um pouco ofendido como se lhe fizessem proposta dúbia....
A maçã no escuro
Escrever em português
Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim
Conhece o vocábulo escardinchar? Qual o feminino de cupim? Qual o antônimo de póstumo? Como se chama o natural do Cairo?O leitor que responder "não sei" a todas estas perguntas não passará provavelmente em nenhuma prova de Português de nenhum concurso oficial. Aliás, se isso pode servir de algum consolo à sua ignorância, receberá um abraço de felicitações deste modesto cronista, seu semelhante e seu irmão. Porque a verdade é que eu também não sei. Você dirá, meu caro professor de Português, que eu não deveria confessar isso; que é uma vergonha para mim, que vivo de escrever, não conhecer o meu instrumento de trabalho, que é a língua.Concordo. Confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de ouvido. De vez em quando um leitor culto se irrita comigo e me manda um recorte de crônica anotado, apontando erros de Português. Um deles chegou a me passar um telegrama, felicitando-me porque não encontrara, na minha crônica daquele dia, um só erro de Português; acrescentava que eu produzira uma "página de bom vernáculo, exemplar". Tive vontade de responder: "Mera coincidência" — mas não o fiz para não entristecer o homem.Espero que uma velhice tranqüila - no hospital ou na cadeia, com seus longos ócios — me permita um dia estudar com toda calma a nossa língua, e me penitenciar dos abusos que tenho praticado contra a sua pulcritude. (Sabem qual o superlativo de pulcro? Isto eu sei por acaso: pulquérrimo! Mas não é desanimador saber uma coisa dessas? Que me aconteceria se eu dissesse a uma bela dama: a senhora é pulquérrima? Eu poderia me queixar se o seu marido me descesse a mão?). Alguém já me escreveu também — que eu sou um escoteiro ao contrário. "Cada dia você parece que tem de praticar a sua má ação — contra a língua". Mas acho que isso é exagero.Como também é exagero saber o que quer dizer escardinchar. Já estou mais perto dos cinqüenta que dos quarenta; vivo de meu trabalho quase sempre honrado, gozo de boasaúde e estou até gordo demais, pensando em meter um regime no organismo — e nunca soube o que fosse escardinchar. Espero que nunca, na minha vida, tenha escardinchado ninguém; se o fiz, mereço desculpas, pois nunca tive essa intenção.Vários problemas e algumas mulheres já me tiraram o sono, mas não o feminino de cupim. Morrerei sem saber isso. E o pior é que não quero saber; nego-me terminantemente a saber, e, se o senhor é um desses cavalheiros que sabem qual é o feminino de cupim, tenha a bondade de não me cumprimentar. Por que exigir essas coisas dos candidatos aos nossos cargos públicos? Por que fazer do estudo da língua portuguesa uma série de alçapões e adivinhas, como essas histórias que uma pessoa conta para "pegar" as outras? O habitante do Cairo pode ser cairense, cairei, caireta, cairota ou cairiri — e a única utilidade de saber qual a palavra certa será para decifrar um problema de palavras cruzadas. Vocês não acham que nossos funcionários públicos já gastam uma parte excessiva do expediente matando palavras cruzadas da "Última Hora" ou lendo o horóscopo e as histórias em quadrinhos de "O Globo"?No fundo o que esse tipo de gramático deseja é tornar a língua portuguesa odiosa; não alguma coisa através da qual as pessoas se entendam, ruas um instrumento de suplício e de opressão que ele, gramático, aplica sobre nós, os ignaros.Mas a mim é que não me escardincham assim, sem mais nem menos: não sou fêmea de cupim nem antônimo do póstumo nenhum; e sou cachoeirense, de Cachoeiro, honradamente — de Cachoeiro de Itapemirim!
Rubem Braga
Reforma Ortográfica
As novas regras da língua portuguesa devem começar a ser implementadas em 2008. Mudanças incluem fim do trema e devem mudar entre 0,5% e 2% do vocabulário brasileiro. Veja abaixo quais são as mudanças. HÍFEN Não se usará mais: 1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista" 2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada" TREMA Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados ACENTO DIFERENCIAL Não se usará mais para diferenciar: 1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição) 2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo) 3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo") 4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo) 5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica) ALFABETO Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y" ACENTO CIRCUNFLEXO Não se usará mais: 1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem" 2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo" ACENTO AGUDO Não se usará mais: 1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia" 2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca" 3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem GRAFIA No português lusitano: 1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo" 2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"
Choto Bandido
mesmo que os cantores sejam falsos como eu serão bonitas, não importa, são bonitas as canções mesmo miseráveis os poetas os seus versos serão bons mesmo porque as notas eram surdas quando um deus sonso e ladrão fez das tripas a primeira lira que animou todos os sons e daí nasceram as baladas e os arroubos de bandidos como eu cantando assim:você nasceu para mim você nasceu para mim mesmo que você feche os ouvidos e as janelas do vestido minha musa vai cair em tentação mesmo porque estou falando grego com sua imaginação mesmo que você fuja de mim por labirintos e alçapões saiba que os poetas como os cegos, podem ver na escuridão e eis que, menos sábios do que antes os seus lábios ofegantes hão de se entregar assim:me leve até o fim me leve até o fim mesmo que os romances sejam falsos como o nosso são bonitas, não importa, são bonitas as canções mesmo sendo errados os amantes seus amores serão bons
edu lobo - chico buarquepara a peça “o corsário do rei de augusto boal”1985
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