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Liberdade...liberdade...abre as asas ....Conexão Brasil - Portugal

Trocas de impressões, sugestões e pontos de vista entre amigos distantes. Estamos reformando o blog

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Saramago

quarta-feira, 27 de agosto de 2008


Postado por Unknown às 11:46    

Marcadores: críticas, Jornal da Globo, opiniões, Saramago

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Entre dois Amores

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Galeria

Tenho uma amiga portuguesa que é um achado... pelo bom humor, pelo jeito de ser que só traz boa energia.
Ela foi de viagem à Lisboa e me mandou essa fotos, lindas...

Dicionario Brasileiro / Português


O brasileiro tira o "fone" do gancho e diz: "Alô?"
O português pega o "auscultador" e diz "Estou!"
Um acontecimento no Brasil
É um facto em Portugal

Chope=Imperial (Sul), Fino (norte)
Camisa do jogador de futebol=Camisola
Salpicão - salada com frango defumado
Salpicão - linguiça defumada
Banheiro - Quarto de banho
Açougue - Açogueiro
Talho - Talhante
Fila - Bicha
Ônibus - Autocarro
Trem - Combóio
Toca-fitas - Leitor de cassetes
Tela (TV,Comp)- Écran
Terno - Fato
Menino - "puto"
Meias masculinas-Peúgas
Cueca - Boxer
Multa - Coima
"meia" - 6 (seis)
Galera -Turma
Embarcação=Galera
Usuário=Utilizador
Xerox=Fotocópia
Caça comprida=pantalona
Legal, maneiro=fixe (pronuncia-se "fiche")
Pistolão (gíria)=Cunha (gíria)
Cafezinho=Bica, Biquinha
Bala=Rebuçado
Elegante=Gira
Restaurante=Casa de Pasto
Suco=Sumo
Xícara=Chávena
Quadrinhos=Banda Desenhada
Drink=Bebida
Time=Equipa / clube
Parada=Demora
Torcida/Claque
O que está na moda =Altamente
Maravilhoso , jóia =Bestial
Muito=Bué
Mulher Tagarela =Galinha (no Brasil, galinha é uma palavra feia quando usada para uma mulher)
O que não tem nada a ver=Bacorada
Burro = "uma anta"=Calhau
Vai plantar batatas! / Vai catar coquinhos! / Deixe-me em paz!
Desampara-me a loja ! / Vai comer palha!
Pessoa Estúpida / "Casca Grossa"
Tulho
Dedurar / Dedo duro
Chibo
Pessoa sem conhecimento do assunto
Nharro / gandarro / massaro
Falar pelos cotovelos = Falar demais
Ir por água a baixo =Não dar certo
Dar o braço a torcer=Recohecer um erro
Piada seca -
Piada seca - "bacorada que um tulho diz!"
Mistura de burro com o casca grossa
Pigmeu - "mistura de tulho com calhau! "
animal
emocionante
axé (pronuncia-se aché) = energia positiva
"Diga aí meu Rei! " =Dizer o que deseja
Mané ou Zé Mané = Otário, um bobo
O bicho pegou =Ficou complicado
Viajou na maionese=Não entendeu nada
Leseira/Preguiça
Troncho (a)/desarrumado
Jaburu / Tribufu / Tanque/Mulher Feia
Ficar de Olho/Vigiar
Chorar de barriga cheia/Reclamar sem motivos
Aeromoça/Hospedeira de Bordo
Água Viva/Alforreca
Água Sanitária/Lixívia
Âncora do Telejornal/Pivot (Pivô)
Apostila/Sebenta
ARO DE RODA (de automóvel)
Jante (ex.: jante de 15 polegadas = roda aro 15)
Band-aid/Penso Rápido
Banho / Chuveirada /duche
Banho de Banheira/Banho
Bilhão ( quantidade)/Mil milhões, bilião
Biscoito Champagne/Palitos de La Reine
Bonde/Eléctrico
Cair a ligação telefônica/Vir abaixo
Caixa Postal/Apartado
Camiseta/T-Shirt
Carteira de Identidade/Bilhete de Identidade
Carteira de Motorista/Carta de Condução
Pixaim, cabelo ruim/Gadelha
Câmbio (automóvel)/Mudanças
Caminhão/Camião
Colar nas Provas/Cabular / Baldar
Cabular aula / a escola/Faltar a escola propositalmente
Concreto/Betão
Concreto Armado/Betão armado
Coxim (automóvel)/Chumaceira
(Cozinhar até ficar) CROCANTE /(Cozer até ficar) ESTALADIÇO
Creme de Leite/Natas
DESCARGA (de banheiro) /Autoclismo (do quarto de banho)
DUBLAGEM (de filme, de programa de tv) /Dobragem
ENCANADOR (ou "bombeiro", expressão usada no RJ)
Picheleiro, ou Canalizador
ESCANTEIO (futebol) /pontapé de canto
Estrada Asfaltada-Estrada alcatroada
Faixa de Pedestre -Passadeira
Favela - Bairro de Lata
Fermento Biológico-Femento Padeiro
Freio (carro) -Travão
Funilaria / Lantern -Bate-chapa
Fusca -Carocha
Geladeira -Frigorífigo
Gramado -Relvado
Goleiro -Guarda-redes
Grampeador -Agrafador
Hodômetro-Conta-quilómetros
Inflável-Insulflável
Jaqueta-Blusão
Limpador de para brisa
Escova limpa-vidros
Lonas de freios-Maxilas
Maiô -Fato de banho
Mamadeira-Biberon
Mamão-Papaya
Marrom-Castanho
Necrotério-Morgue
(Óleo) Diesel-Gasóleo
Painel (carro)-Tablier
Pão Francês-Carcaça
Pedágio-Portagem
Pedestre-Peão
Perua -Carrinha
Pessoa Física-Pessoa Singular
Ponto de Onibus-Paragem
Pé de Pato -Barbatanas
Placa do Carro-Matrícula
(ddd) -Indicativo
Salva-vidas-Nadador
Sanduíche-Sandes
Secretária Eletrônica
Atendedor de Chamadas
Tanque de combustível-Depósito
Chapinha (refrigerante)
Cápsula
Celular-Telemóvel
Térreo-Rés do chão
Teto Solar-Tejadilho de Abrir
Torque (motor)-Binário
Trecho (da estrada)-Troço
Venda a varejo-Venda a retalho
Vitrine-Montra (vitrine também se usa)
Viva voz (para os carros)-Mãos Livres
Filézinho ou Sanduiche de Filé-Prego
"viajar na maionese" -"andar a apanhar papeis"
Bisnaga (Pão)-Cacete
Patricinha /Mauricinho-Betinha / Betinho
Fofocar / Tricotar-"Estar na costura"
Falar mal de alguém-"Cortar na casaca"
Barbeiro (motorista ruim)
Azelha ( mal condutor)
Friaca (muito frio) - Hoje esta uma friaca
Briol - Hoje esta um briol!
No Brasil ficamos resfriados
Em Portugal, constipados

fonte:
http://www.alzirazulmira.com/diferencas.htm


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A partir de junho de 2008

Colaboradores

  • República dos Bananas
  • Unknown

Para Brasileiros e Portugueses.

É impossível gostar de si rejeitando uma parte sua que lhe é inerente, querendo tirar e jogar fora. É como rejeitar a si mesmo. É querer ser algo que não se é. Originalidade é um bem que vence o tempo.Brasileiros precisam entender profundamente Portugal, para entenderem profundamente a si mesmos.
Só assim poderão gostar genuínamente de si, porque esse "Olha como somos maravilhosos!!!", desculpe, não me convence, quero mais.
Quero aquele gostar de si tranquilo de quem não precisa desesperadamente convencer a ninguém. E está tão bem consigo mesmo que consegue olhar em volta e perceber os outros.
Portugueses e brasileiros, a meu ver, deixam de simplesmente SER para medir forças. Toda a sua estreita visão consiste em captar os que estão "acima" e os que estão "abaixo" de nós.
Esse blog tenta, de maneira ainda nem tão ideal, mas tenta, ampliar essa visão e deixar tudo mais colorido e interessante.
Seja bem vindo(a).

LIBERDADE


The only freedom which deserves the name is that of pursuing our own good in our own way, so long as we do not attempt to deprive others of theirs, or impede their efforts to obtain it. Each is the proper guardian of his own health, whether bodily, or mental or spiritual. Mankind are greater gainers by suffering each other to live as seems good to themselves, than by compelling each to live as seems good to the rest.

John Stuart Mill, On Liberty, 1859English economist & philosopher (1806 - 1873)



"A ÚNICA LIBERDADE QUE MERECE ESTE NOME É A DE PROCURARMOS O NOSSO PRÓPRIO BEM À NOSSA MANEIRA, DESDE QUE NÃO TENTEMOS PRIVAR OS OUTROS DO SEU, OU FRUSTRAR OS SEUS ESFORÇOS PARA O ALCANÇAR. CADA UM DE NÓS É O MELHOR GUARDIÃO DA SUA PRÓPRIA SAÚDE, SEJA ELA CORPORAL, MENTAL OU ESPIRITUAL. A SOCIEDADE ACABA POR GANHAR MAIS PERMITINDO QUE CADA UM VIVA À SUA MANEIRA QUE OBRIGANDO-O A VIVER À MANEIRA DE OUTRO".

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Sobre povos que vieram ao Brasil.

  • Chegados

Fernando Pessoa

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena."

Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho

Alberto Caeiro

Ás vezes tenho idéias felizes, Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam... Depois de escrever, leio... Por que escrevi isto? Onde fui buscar isto? De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu... Seremos nós nesse mundo apenas canetas com tinta Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

Álvaro de Campos

Queriam-me casado, cotidiano, fútil e tributável? Queriam-me o contrário disso, o contrário de qualquer [coisa? Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. Assim, como sou, tenham paciência!

Álvaro de Campos...

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro


Eu amo tudo que foi, Tudo que já não é, A dor que já não me dói. A antiga e a errônea fé, O ontem que dor deixou, O que deixou alegria Só porque foi e voou E hoje é já outro dia. [Poesias Coligadas/inéditas]

Segue o teu destino, rega a tuas plantas, ama as tuas rosas.
O resto é a sombra de árvores alheias.
A realidade sempre é mais ou menos do que nós queremos.
Só nós somos sempre iguais a nós próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode Dizer-te.
A resposta está além dos deuses.
Mas serenamente imita o Olimpo no teu coração.
Os deuses são deuses porque não se pensam.
Ricardo Reis

A conversa dentro da conversa dentro da conversa.

Conversa à beira do càis

Crônica de Mário de Andrade, 1938
(...nada mudou...)
Outro dia, dia útil, almocei com um amigo num dos restaurantes do mercado do
Rio. Talvez tenha me excedido na moqueca de peixe, excelente. Sei que me senti
bastante completo, com desejo de ficar só, como nos momentos raros de perfeição.
Por isso, meu amigo tendo seus afazeres e eu nada, me despedi gostosamente dêle,
e fiquei banzando, pensamento entrecerrado, pelo cáis da Praça Quinze. Olhava o
mar que se descortina dali, curto, sem a menor oceanidade.Foi quando se
aproximou um homem, isto é, não se aproximou não,quando ele falou comigo pus
reparo num homem debruçado no parapeito do cáis.Apontando uma barca rapida que
entrava comentou que decerto estava cheia de taínhas. Não sei por que sentimento
de complacência fui perguntando ao homem qualquer coisa sobre a pesca de
taínhas, si não era feita de noite, si a barca então saira na véspera e vinha
atrasada, ou si, marupiara, chegava primeiro, nem lembro. O homem secundava
manso, com forte acento português, mirando o mar. Era operário,de fato português
com apenas dois anos de Brasil e nenhum conhecimento de taínhas.
De repente parou a frase, meio que se virou me olhando pela primeira vez e perguntou:
_ Êtes-vous français?
_ V' oui, que eu falei, com uma espontaneidade tão absurda que nem pude me divertir com a pergunta. E esta era perfeitamente maluca: nada tenho de francês nem no corpo nem na fala. Donde vinha aquele portuga me pensar francês! Porém nada me divertia, estava era espaventado com a espontaneidade da minha mentira. E logo imaginei com primaridade acomodatícia: A resposta fôra um puro reflexo de vaidade, pois não tinha dúvida que me timbrava como elogio pelo ser inteiro, aquela invenção do operário.
A conversa continuou em francês e, está claro, desde então dirigida cuidadosamente por mim. Quis logo saber si o homem estivera na França (sim), quanto tempo (dois anos), em que cidade (Lião, Marselha). Sobretudo os lugares em que o operário estivera, me preocuparam muito no começo, pra não coincidir com êles nalguma resposta. Então me situei desafogadamente ao norte, em Paris onde nasci, no Havre e em mais duas ou três invenções que meu juízo reputou bem pobres geograficamente. Depois fui consertando com paciência a invencionice: meu pai é que era bem francês, viera ao Brasil, servira como gerente numa casa de sêdas em São Paulo (hoje me envergonho da associação de imagens larvar: Lião-sêdas), e se casara afinal nesta São Paulo com uma senhora paranaense que, pra viver em São Paulo, fiz ser filha de militar. Foram em viagem de núpcias para a França e eu nasci em Paris, voilà. Minha mãe fez questão de me registrar no consulado, mas educado num liceu de Versalhes (gostei de Versalhes que aumentou a geografia), tendo pasado a mocidade em França, me sinto muito mais francês que brasileiro. De resto, estava no Brasil apenas de passagem, colhendo uma herança curta (fiz questão do "curta" pro homem não me pedir dinheiro) e voltava dentro de uns três mêses. Então metemos o pau no Brasil.
Mas fiquei logo com vontade de me vingar do companheiro e meti o pau em Portugal, por causa do fachismo. Mas o português me ajudou. Então meti o pau na França, meti o pau na Europa e, é incrível! Não uso de patriotices, mas não sei o que me deu: me deu uma vontade enorme de elogiar o Brasil, fiz. Êle aceitou, com indiferença, meus comentários sobre a doçura, apesar de tudo, desta nossa vida brasileira.
De vez em quando eu argotizava com aplicação pra me anaturalizar bem francês. Ele, por si, contou uma história labiríntica que me pareceu muito mal contada em que entrava uma mulher bastante rica apaixonada por ele, mais a filha dela e com a mesma paixão. Tudo de uma imoralidade exemplar, certos detalhes!... De repente, tive a noção absoluta de que o homem estava mentindo. Enguli a mentira toda bem quietinho. E concebi concomitantemente o pensamento de que talvez êle já me perguntasse si eu era françês por simples mentira, apenas pra poder contar sua estadia verdadeira em Marselha e Lião. Mas fui bêsta, botando importância em mim, e ele êle tivera que esperar aquela conversalhada, pra achar ouvidos que escutassem o seu mundo imaginário de sexualidades escatológicas. Estava tão distraídonestas dúvidas, que a conversa entreparou, desiludida. O operário aproveitou a estiada e se despediu tocando levemente o chapéu. Isto é, boné.
Os Filhos Da Candinha, Martins Editora.

Clarice Lispector

O homem parecia ter desapontadamente perdido o sentido do que queria anotar. E hesitava, mordia a ponta do lápis como um lavrador embaraçado por ter que transformar o crescimento do trigo em algarismos. De novo revirou o lápis, duvidava e de novo duvidava, com um respeito inesperado pela palavra escrita. Parecia-lhe que aquilo que lançasse no papel ficaria definitivo, ele não teve o desplante de rabiscar a primeira palavra. Tinha a impressão defensiva de que, mal escrevesse a primeria, e seria tarde demais. Tão desleal era a potência da mais simples palavra sobre o mais vasto dos pensamentos. Na realidade o pensamento daquele homem era apenas vasto, o que não o tornava muito utilizável. No entanto parece que ele sentia uma curiosa repulsa em concretizá-lo, e até um pouco ofendido como se lhe fizessem proposta dúbia....

A maçã no escuro

Escrever em português

Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim


Conhece o vocábulo escardinchar? Qual o feminino de cupim? Qual o antônimo de póstumo? Como se chama o natural do Cairo?O leitor que responder "não sei" a todas estas perguntas não passará provavelmente em nenhuma prova de Português de nenhum concurso oficial. Aliás, se isso pode servir de algum consolo à sua ignorância, receberá um abraço de felicitações deste modesto cronista, seu semelhante e seu irmão.
Porque a verdade é que eu também não sei. Você dirá, meu caro professor de Português, que eu não deveria confessar isso; que é uma vergonha para mim, que vivo de escrever, não conhecer o meu instrumento de trabalho, que é a língua.Concordo. Confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de ouvido. De vez em quando um leitor culto se irrita comigo e me manda um recorte de crônica anotado, apontando erros de Português. Um deles chegou a me passar um telegrama, felicitando-me porque não encontrara, na minha crônica daquele dia, um só erro de Português; acrescentava que eu produzira uma "página de bom vernáculo, exemplar". Tive vontade de responder: "Mera coincidência" — mas não o fiz para não entristecer o homem.Espero que uma velhice tranqüila - no hospital ou na cadeia, com seus longos ócios — me permita um dia estudar com toda calma a nossa língua, e me penitenciar dos abusos que tenho praticado contra a sua pulcritude. (Sabem qual o superlativo de pulcro? Isto eu sei por acaso: pulquérrimo! Mas não é desanimador saber uma coisa dessas? Que me aconteceria se eu dissesse a uma bela dama: a senhora é pulquérrima? Eu poderia me queixar se o seu marido me descesse a mão?).
Alguém já me escreveu também — que eu sou um escoteiro ao contrário. "Cada dia você parece que tem de praticar a sua má ação — contra a língua". Mas acho que isso é exagero.Como também é exagero saber o que quer dizer escardinchar. Já estou mais perto dos cinqüenta que dos quarenta; vivo de meu trabalho quase sempre honrado, gozo de boasaúde e estou até gordo demais, pensando em meter um regime no organismo — e nunca soube o que fosse escardinchar. Espero que nunca, na minha vida, tenha escardinchado ninguém; se o fiz, mereço desculpas, pois nunca tive essa intenção.Vários problemas e algumas mulheres já me tiraram o sono, mas não o feminino de cupim. Morrerei sem saber isso. E o pior é que não quero saber; nego-me terminantemente a saber, e, se o senhor é um desses cavalheiros que sabem qual é o feminino de cupim, tenha a bondade de não me cumprimentar.
Por que exigir essas coisas dos candidatos aos nossos cargos públicos? Por que fazer do estudo da língua portuguesa uma série de alçapões e adivinhas, como essas histórias que uma pessoa conta para "pegar" as outras? O habitante do Cairo pode ser cairense, cairei, caireta, cairota ou cairiri — e a única utilidade de saber qual a palavra certa será para decifrar um problema de palavras cruzadas. Vocês não acham que nossos funcionários públicos já gastam uma parte excessiva do expediente matando palavras cruzadas da "Última Hora" ou lendo o horóscopo e as histórias em quadrinhos de "O Globo"?No fundo o que esse tipo de gramático deseja é tornar a língua portuguesa odiosa; não alguma coisa através da qual as pessoas se entendam, ruas um instrumento de suplício e de opressão que ele, gramático, aplica sobre nós, os ignaros.Mas a mim é que não me escardincham assim, sem mais nem menos: não sou fêmea de cupim nem antônimo do póstumo nenhum; e sou cachoeirense, de Cachoeiro, honradamente — de Cachoeiro de Itapemirim!

Rubem Braga

Reforma Ortográfica

As novas regras da língua portuguesa devem começar a ser implementadas em 2008.
Mudanças incluem fim do trema e devem mudar entre 0,5% e 2% do vocabulário brasileiro.
Veja abaixo quais são as mudanças.
HÍFEN
Não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"
TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados
ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)
ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"
ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"
ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem
GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"
2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"

Choto Bandido

mesmo que os cantores sejam falsos como eu serão bonitas, não importa, são bonitas as canções
mesmo miseráveis os poetas os seus versos serão bons
mesmo porque as notas eram surdas quando um deus sonso e ladrão fez das tripas a primeira lira que animou todos os sons e daí nasceram as baladas e os arroubos de bandidos como eu cantando assim:você nasceu para mim
você nasceu para mim
mesmo que você feche os ouvidos e as janelas do vestido minha musa vai cair em tentação
mesmo porque estou falando grego com sua imaginação mesmo que você fuja de mim por labirintos e alçapões saiba que os poetas como os cegos, podem ver na escuridão
e eis que, menos sábios do que antes os seus lábios ofegantes hão de se entregar assim:me leve até o fim
me leve até o fim
mesmo que os romances sejam falsos como o nosso são bonitas, não importa, são bonitas as canções
mesmo sendo errados os amantes seus amores serão bons

edu lobo - chico buarquepara a peça “o corsário do rei de augusto boal”1985
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