A liberação para pesquisas com células - tronco embrionárias, e a nova tribo indígena.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

foto O Globo Online
Supremo Tribunal Federal discute a liberação.
Isso é Brasil.
Esse país não conseguiria ser aborrecido ou chato, mesmo que quisesse, porque somos muitas realidades.
E somos tão angustiadamente insatisfeitos,talvez porque tenhamos a certeza intuitiva de que ainda estamos só aprendendo a ser um país dinâmico, não caótico,a sermos autônomos e auto-críticos, ao invés de perdidos e debochados.
O superintendente da Funai disse que pretende deixar lá sossegados os senhores índios, que jogaram flechas no helicóptero por se aproximar.
Podemos deixá-los pensar que assustaram o helicóptero, que venceram.
Será que conseguiríamos?
Estamos sendo muito condescendentes em decidir o que é melhor para eles?
foto fornecida pela Funai
É curiosa a relação do homem branco com o índio desde que chegou por aqui.
Sempre tivemos, mesmo nas guerras, no genocídio, na escravidão, uma interessante atração por um certo tipo de pureza, uma certa filosofia de vida que não nos seria possível ter.
Mas quando em contato com a cultura branca os índios adquirem aquela atitude de quando não é mais possível ser o que se era e nem se sabe que caminho seguir.
Repetem os discursos que lhes sopram aos ouvidos,são genuínamente apegados às suas terras, mas adotam, também, certa filosofia capitalista; nos provocam nessa nossa ingenuidade de esperar vê-los com roupas tradicionais, quando, virando nós, as costas,
voltam a colocar suas calças jeans.
Também querem o melhor de ser índio e o melhor de se ter terras em uma sociedade em que o que vale é grana.E quem os vai condenar?
Apesar disso, a exploração indiscriminada da terra só se dá realmente por caboclos culturalmente brancos, ou quase brancos.
Não conheço nenhum povo, nenhuma cultura, que na sua maioria, repetindo,maioria , não tenha se deslumbrado com o capitalismo.
No outro extremo, aqui em São Paulo e Rio,cientistas brancos e cientistas com algum sangue índio comemoram a liberação de pesquisas com células-tronco embrionárias. Agora podemos usar as células de embriões congelados que nunca seriam implantados em suas mães para pesquisas em prol da cura de doenças neuro-musculares, por exemplo.Conseguimos a reafirmação do Estado Laico.Havendo restrições de crença ou religião, que cada indivíduo adote a postura própria.
Notícias do Brasil.

Na posse de Mink, Lula fala mais de Marina.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Efe foto Folha de São Paulo


Com frases como "Nossa amizade é inabalável" e "Marina é a cara da luta pelo Meio Ambiente", e, para Mink, "Você está substituindo Pelé" mas "nem Pelé é insubstituível" ou "Mink falou mais em uma semana que Marina que em cinco anos e meio de Ministério", Lula deu posse ao novo Ministro do Meio Ambiente.
Lula também disse que a política do Meio Ambiente é a mesma da campanha que o elegeu.

Caso Isabella. O contraditório na versão do perito contratado pela defesa.

segunda-feira, 26 de maio de 2008




Contestações de George Sanguinetti, perito contratado pela defesa.
Não havia sangue na blusa de Isabella, o que é estranho em relação à versão da polícia. Mas e o sangue no apartamento e na rede da janela?


Não há provas da asfixia, o que afasta a madrasta da participação do crime.
Não há provas de que Isabella estava desacordada na queda.Esperemos que estivesse.
Há uma tendência nos laudos periciais de agravante de tipificação do crime, e opiniões subjetivas e pessoais.
Acontece em São Paulo uma entrevista coletiva.
É tão angustiante, por Isabella, nós não termos a certeza do que exatamente houve; com uma confissão, ou um elemento decisivo!!..

A Amazonia e os Interesses Internacionais

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Último discurso de Jefferson Peres no senado.
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM831528-7823-O+ULTIMO+DISCURSO+DE+JEFFERSON+PERES,00.html

Mudou o endereço do Blog

http://liberdadeabreasasasbrasilportugal.blogspot.com/

Morte de Jefferson Péres e o seu discurso sobre Ética.

Não vou aqui discutir sobre se Jefferson Péres era uma referência ética no Senado ou não.Quando falamos de Senado,Câmara dos Deputados e afins, há vários níveis de informação e percepção da realidade, e é difícil termos uma ampla e verdadeira noção do que acontece.
O que se pode dizer é que vários colegas depôem que o tinham como referência nesse assunto.Pode-se dizer também que o discurso acontece num momento em que o Brasil está prestes a reeleger Lula, com todo o vento a favor em prol do presidente; então o discurso do Senador, contra a corrente, parece ser pelo menos legítimo no sentimento de protesto.
Lula também fez sua carreira política pautando seu discurso na ética.Quase um mandato depois, em vias de se reeleger, quem faz esse discurso é outro.
Parece que ética combina muito pouco com o poder.
Talvez se pudesse dizer que a ética não tem que combinar com o poder no sentido de que ela é a disciplinadora do poder.
Nós, brasileiros, que temos amadurecido a partir da ascensão ao poder pelo P.T., podemos definir as épocas políticas pelas filosofias dos ditados populares implícitos.
Criamos, hoje em dia, certa antipatia pelo tal "jeitinho brasileiro". Ganhamos democraticamente do "rouba mas faz", até porque esse "rouba" autorizado chegou à casa do bilhão; mas instituímos agora o "os fins justificam os meios".
É claro que os dois primeiros continuam e o último sempre houve, mas estamos falando
aqui de quando adquirirem status no inconsciente popular.
A nossa ética pessoal regula e compete com o que conhecemos dentro de nós como "realidade é isso mesmo"
É assim também com o poder sobre nossas cabeças. O quanto ele pode transgredir em nome de "lidar com a realidade" como ela se apresenta?
Não podemos menosprezar a competência de se saber lidar com a realidade.
Isso é imprescindível à uma pessoa ou país que se quer vencedor.
Mas a realidade é terrivelmente fria e apavorantemente injusta, por ser competitiva e eliminadora dos mais fracos, e cinicamente volúvel.
E briga constatemente com nossa noção de ética e justiça.
Não se pode abrir mão do desafio que é o possível entre as duas coisas.

Referido discurso de Jefferson Péres:

Saramago assiste a Blindness

quinta-feira, 22 de maio de 2008



... filme de Fernando Meirelles baseado no livro "Ensaio sobre a Cegueira"

Blog sobre o filme

http://blogdeblindness.blogspot.com/


Tiraram os óculos de Drummond....
Fonte Estadão.

http://www.estadao.com.br/geral/not_ger67905,0.htm

Sabedoria

Carlos Drummond de Andrade



Alguma Coisa De Drummond.

CONSOLO NA PRAIA


Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.



Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Provocação

quarta-feira, 21 de maio de 2008




Meu grande amigo e parceiro de blog diz que sofro de idealismo ingênuo.

Mas alguém ... que como ele, é capaz de perceber o patético do ser humano em querer parecer esteticamente perfeito, artificialmente risonho e feliz, ignorando valores como originalidade ou criatividade,não seria um idealista disfarçado?

Catástrofes...tragédias muito mais frequentes e... o fim do homem na terra?

terça-feira, 20 de maio de 2008


Pode parecer conversa entre pastores pentescostais, mas não é mais.
É incrível como a realidade têm nos provocado a ouvir cientistas sobre a possibilidade de o homem ter provocado tanto a mãe terra que talvez as catástrofes decorrentes servem à bela metáfora de que ela queira nos eliminar como um corpo estranho, uma doença.
O Universo não precisa de nós e esquecemos disso.
Faz parte dos organismos vivos a renovação advinda da agressão sistemática.
Se catastrófica ou em pequenas doses, isso estamos escolhendo.
A Terra não suportaria uma China

desenvolvida nos moldes em que são os Estados Unidos hoje.O Brasil está entre os cinco maiores emissores de gás carbônico na atmosfera.
Entre 60% a 75% das emissões brasileiras são provenientes dos desmatamentos da floresta tropical.Mas qualquer ser humano tem direito à lutar pelo conforto que outros seres humanos têm.

Queimadas na Amazonia


Então vemos alguns agredindo seu espaço por quererem chegar a um certo lugar que acreditam idílico, e outros, estando lá, no desespero de usufruir, mesmo que só dê para usufruir no presente.
Não estamos mais preocupados com o futuro.
Não acreditamos mais em nós.
Porque iríamos nos preocupar com a permanência do ser humano na terra, se não nos gostamos?
Mas será que não conseguiríamos alguma paz, auto-estima, por nos sabermos genuinamente capazes de grandes atitudes?
Talvez seja possível.
Talvez.

Saiba Mais

http://www.cpflcultura.com.br/videoteca_2008.aspx?videoteca_categoria_ID=0&videoteca_ID=139

fotos
http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=22654&action=reportagem

Somente para brasileiros.

Quer ficar de bom humor hoje?

Lembre que 10% dos mais ricos no Brasil detêm 75% da riqueza, segundo o Ipea.

E tenha um bom dia.

Globos de Ouro ou de Chumbo????

segunda-feira, 19 de maio de 2008


Realizou-se na semana passada uma triste imitação dos "Golden Globe Awards" neste pequeno e mísero país à beira-mar plantado. E digo triste imitação, não só pelo facto de ser uma má cópia do original, mas sobretudo por ser um atentado ao valor de quem realmente tem talento e uma homenagem descarada à fraude e ao burlesco desta terrinha.... Ora vejamos... quem passou a vista pelo dito programa, da já de si desdenhosa estação de programas que temos de "engolir", terá assistido a um desfilar de pseudo-famosos por uma passadeira vermelha, fingindo que são VIP's e com um unico objectivo de nomear descaradamente os seus patrocinadores - costureiros e joalheiros. Sendo certo que no final da dita gala têm de entregar os pertences aos seus legítimos donos!

Como se já não bastasse a farsa, assistimos a episódios jucosos de "meninas de elite" que exibem os seus contornados corpos, pagos em prestações ou então à custa de favores sabe-se lá de que natureza a pessoas do showbizz, com o único intuíto de se auto-promoverem.

Depois dessas, temos os decrépitos "famosos" com as rábulas do costume. Uma que anuncia o seu casamento forjado com um qualquer anormal mais novo, cerimónia combinada com várias revistas e previamente pago pormenorizada e paga a peso de ouro. Outro que exibe as suas mais recentes plásticas e outras correcções à criação divina.

Ora isto até seria bem compreendido se fosse numa qualquer corte real de um qualquer reinado de aquém e de além. Mero símbolo da opulência dum clero ou nobreza doutros tempos. mas não... Estes pobres e infelizes desgraçados não passam de pelintras que gostam de brincar ao faz-de-conta que somos ricos!

A gala dos Globos de Ouro foi esta rapsódia de episódios embaraçosos para qualquer circo que se preze e depois de mudarmos de canal ou apagarmos a TV, deparamo-nos com o país real. O tal que se debate com uma profunda crise financeira e social. O tal que já foi vítima de 17 subidas do preço dos combustíveis, só este ano. O tal que volta a ter a definição de pobreza bem patente no dia-a-dia.

Bem vindo, amigo.



Comemorando o primeiro post do meu companheiro de escrita, reforço que somos sim, bastante diferentes, mas é essa mesmo toda a graça da coisa.

Além do que, cheios de personalidade.

Duas pessoas aqui dizendo o mesmo pra que seria não é?

Com essa dupla troca de energias esse blog pretende resultar não só em duas, mas muitas caras e humores, que competência pra isso acho que temos.

Vamos ver.

Estou esperando a troca de cabeçalho do blog com a devida contribuição do senhor português assim como alguma contribuição portuguesa para esse espaço entre minhas mensagens metidas a besta aí ao lado.

Mas costumam dizer que sou impaciente, irrequieta e impulsiva, e pior, estabanada nos assuntos de mercúrio.
O que muito me irrita.

Então estou aqui com um incenso fazendo meditação e esperando...esperando....


China Humana










Acostumados a olhar para a China com o olhar dos grandes números, a tragédia pós terremoto que essa China agora aberta ao olhar exterior nos apresenta são mães que choram os únicos filhos que lhes foi permitido ter, desespero, solidariedade,e... desespero.
Apesar de me confessar fascinada pela imprensa desde que me entendo por gente, sei do seu lado horroroso.
Mas pensando na tragédia maior ainda em Mianmar, que nos mantém distantes do seu terrível drama não por alguma razão valorosa, ética, mas pela crueldade proveniente do apego ao poder de seus ridículos governantes, percebe-se como as imagens e relatos do dramas particulares na China acabam por deixá-los, na sua dor, mais próximos do resto do mundo.
Nesses momentos é que a comunicação faz o seu melhor papel, quando conecta seres humanos.
Que cada ajuda à China contemple também Mianmar.

A introdução da contra-parte...

sábado, 17 de maio de 2008




Contráriamente à minha colaboradora e amiga nesse blog, não partilho do seu mundo de sonhos e idealismos. Sou um sobrevivente, um nativo da crueldade nascida da sociedade ocidental europeia da actualidade. E nesse contexto, bato-me todos os dias com os meus conflitos, as adversidades e a fatalidade de quem apenas tenta chegar ao dia seguinte com a réstea de força para continuar.
Não quer isto dizer que se resume a minha condição de ser errante a uma amenidade de ser levado pela "corrente" do quotidiano. Não... a aprendizagem de toda uma vida serviu para alguma coisa e tornou-me num ser até bastante sensível ao belo, ao prazer, à felicidade momentânea...
Penso que o relativo interesse deste manifesto escrito reside precisamente no contraponto que se pode estabelecer com as contribuições da minha amiga. Ela vive numa grande metrópole, na agitação extrema, numa condição supostamente desfavorável à boa saúde mental. No entanto, eu vivo num pequeno reduto semi-rural da costa atlântica da Europa, onde o conceito do urbanismo ainda dá os primeios passos e onde as condições sociais do dia-a-dia seriam
as supostamente ideais para maior longevidade física e mental.
Vamos ver como tudo isso é um complicado emaranhado de fios de dificil ordenação, até para as
mentes mais iluminadas
.

Demissão de Marina Silva

quarta-feira, 14 de maio de 2008



"Perco o pescoço mas não a cabeça", já disse a ex-ministra certa vez.
Parece que depois de muita briga e resistências, Marina vinha perdendo terreno e algumas batalhas, a ponto de culminar na indicação de Mangabeira Unger da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos para a coordenação do Plano Amazônia Sustentável (PAS).

Marina era acusada de protelar demais as liberações do Ministério, não tinha um ambiente muito favorável entre os governadores da Amazonia Legal, por exemplo.

Sai deixando a imagem de uma ministra totalmente envolvida com a pasta, verdadeiramente atuante nos propósitos do meio ambiente, corajosa e determinada.

O governo vai precisar mostrar que não tem dado ênfase demais ao desenvolvimentismo em detrimento dos interesses ambientais.

O Brasil precisa aprender a lidar com essas duas questões, equilibrando-as, tendo por ambição nada menos do que se tornar uma autoridade nesse campo.

A sociedade brasileira precisa tomar pra si essa responsabilidade, só assim merecerá o grande país que o Brasil pode ser.










Novidades....

terça-feira, 13 de maio de 2008




Esse blog passará a pertencer a duas pessoas, eu,de são paulo, e um português, amigo há muito tempo.

Estou comemorando, vai ser ótimo, pq ele vai comentar sobre o universo dele,enquanto continuo aqui falando sobre meu mundinho brasileiro.

Como o blog vai ser totalmente compartilhado, ele andou xeretando em algumas coisas, e até acharmos a cara conjunta vai ser um tanto caótico...

desculpem a nossa bagunça.

sábado, 10 de maio de 2008


Vi essa semana "El Passado" de Hector Babenco.

A entrevista dele a respeito do filme havia me despertado a curiosidade, já que ele falou sobre uma certa discrepancia na reação de mulheres e homens ao filme.

Pelo menos na tal entrevista ele não falou detalhadamente a respeito, mas acredito que os homens devem ter entendido a angústia do protagonista em relação à como se desenvolve a relação com a ex-mulher, e palavras dele, se bem me lembro, "as mulheres acharam tudo normal".

Fui ver o filme preparada para lidar com conflitos bastantes sutis, de difícil percepção, o que explicaria as diferenças de olhar feminino e masculino.

Confesso que a princípio achei que era compreensível o apego da personagem, afinal foram vários anos de casamento, qual o problema sentir falta de um amigo?

Até o passeio com o carrinho de bebê me parecia encucação do personagem (e do cineasta...rsss) olhar pra ela com a sensação da música de suspense.
Achei que a tal música só estava na cabeça dos dois.

Mas o que se segue, é realmente o pior do apego emocional feminino, mas vale dizer, não só feminino.

Terminando o filme, fiquei questinando comigo mesma, e é claro que é um questionamento óbvio, o quanto o olhar de outras mulheres, e não a rejeição do homem
é o grande impulsionador de comportamentos assim.

O desfile dela com ele como objeto de desejo de outras, como se fosse um anel ou coisa assim, é daquelas cenas que ficam como referência no pensamento.
Mas não era o protagonista, também, daqueles homens-vênus, quase femininos, com extrema vontade de agradar e uma grande dificuldade de se colocar com vontade própria diante de uma mulher?

Pensando em casos assim, na obsessão de homens ou mulheres, há, é claro, um dominador e um objeto,e apesar de eu ter chamado mais acima de apego emocional, a verdade é que há muito mais orgulho que amor em jogo.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Um provisório ufa!...por Isabela.

Mas quando vemos as cenas de condenação pública, a voz interior.

"Que sejam realmente os culpados" como parece evidente.

Oposição em saia muito justa




Pegou muito mal o uso pelo senador Agripino Maia de uma entrevista da ministra Dilma Roussef sobre o fato de ter mentido quando foi presa pela ditadura.

A resposta indignada de Dilma foi primorosa.

Como se pode explicar tamanha falta de semancol do Senador?

Foi tão cruel que acabou por ser ingênuo

E a oposição, teve que lidar com o gol contra ....

Fiquei com Dilma.

Estamos emburrecendo com a internet e a informação por vídeo?

terça-feira, 6 de maio de 2008


Achei essas duas entrevistas, que li no Estado de São Paulo, interessantíssimas.

Mas tenho a dizer que:

Acho que o que há de mais evidente, é que a internet é um meio pelo qual cada vez mais todos participam, e massa, em qualquer tempo é massa. Nunca a massa teve tanta participação na mídia, é isso, é claro, causa a estranheza, como diz Lee Siegel.
Mas acho que ele exagera no mal humor.

Alguém já ouviu falar de uma grande massa num impulso de intelectualização?

A internet também evidencia o que há de mais cretino no ser humano, mas esse cretino sempre houve, só não era tão evidente, - e aí talvez a legitimidade da preocupação - tão venerado.

Hoje a informação transita pela internet em níveis diversos, e dependendo do seu tipo de curiosidade, vai ter a informação no nível que queira.

A cultura da ignorância é o que é, sim, de mais preocupante e condenável, porque sendo o indivíduo curioso, interessado em evoluir, todo o meio pode ser impulsionador, essa evolução sendo sempre deficitária se não atingir o nível de muita, muita leitura de boa qualidade.

Quanto à relações que acontecem somente num nível psíquico, acho mais interessante que problemático, vejo vantagens e desvantagens como em qualquer relação humana.

Mas é tudo tão recente que mesmo valendo a discussão, é de difícil reflexão.

Se estiver curioso, estão aqui as duas entrevistas e o endereço virtual de "O Estado de São paulo", logo abaixo.

A Ansiedade De Exposição

Na internet, você entra no YouTube, vira a câmera para si mesmo e perde a individualidade. Passa a se apresentar como um pacote público

Lúcia Guimarães* - O Estado de S.Paulo 2 de março de 2008

SÃO PAULO - Primeiro, uma confissão: venho me servindo do ensaísta e crítico cultural Lee Siegel há anos. Não, ele não vai me processar por assédio sexual. As idéias de Lee Siegel me socorreram quando algum fenômeno da cultura popular americana me colocava na contramão do gosto coletivo e me batia uma solidão danada em festas ou papos de bar. Em parte por causa dele me mantive assinante da revista The New Republic. E desconfiei que havia algo malcheiroso no incidente que levou-o a uma suspensão temporária desta publicação por ter assumido um pseudônimo para se defender de ataques de leitores sociopatas. Volto à celeuma já, já. Mas, no espírito da transparência editorial, foi na condição de tiete que, ao ver o novo livro de Siegel exposto na livraria, decidi procurá-lo ao terminar a primeira página do prefácio.

Afinal, se você aprecia o piano de Bill Evans como eu, já não é um primeiro estímulo para tomarmos um café juntos? Como não podia convidar um estranho para tomar café, recorri ao velho truque, um dos poucos privilégios que sobraram na nossa escorraçada profissão. O jeito era lançar a isca da entrevista. Marquei uma gravação lá em casa. A assessora de imprensa da nova editora Spiegel and Grau não questionou o endereço do compromisso, em meio a tantos que estava marcando para seu autor. "Vinte minutos, hein", ela confirmou. Concordei, é claro. Os 20 minutos duraram quase 3 horas, interrompidas por um telefonema convocando o entrevistado a ir correndo render a babá do filho de 18 meses.

No prefácio de Against the Machine, Being Human in the Age of the Electronic Mob, Siegel resume o que faz dele um personagem démodé do jornalismo contemporâneo: "As coisas não têm que ser como são".

No auge do baba-ovo geral com a série Sex & the City, em 2002, um ensaio solitário de Siegel, Relationshipism, na New Republic, chamou atenção para o fato de que as quatro mulheres usavam a própria independência para, entre outros comportamentos destrutivos, confundir sexo com afeto e submeter-se a humilhações sistemáticas. Siegel estava defendendo as mulheres delas mesmas.

Em 2006, Siegel assinava um blog cultural na New Republic quando a seção Talkback da revista começou a registrar comentários anônimos tais como "(?) Siegel colocou seu pênis sobre o altar", "Siegel quer foder uma criança". Indignado ao ver uma revista tradicional e respeitada se sujeitar a publicar esse tipo de linguagem, ele pediu aos editores para acatar as regras de decoro que eles próprios tinham criado para o conteúdo on line. Não foi ouvido. Criou então a identidade sprezzatura, o termo cunhado na Renascença para definir a simplicidade enganosa. Começou a atacar seus agressores no estilo deles e a defender seus artigos, numa pequena guerrilha de palavras. Mas acabou descoberto. A revista pediu desculpas, Siegel foi temporariamente suspenso e os colegas adoraram a oportunidade de ridicularizar a breve desgraça do obstinado remador contra a corrente. A ironia, ele lembra, é que, graças ao miniescândalo, teve a oferta para escrever Against the Machine, num rebote típico da sociedade americana.

O argumento central do livro é que a internet veio acelerar uma tendência cultural preexistente - o fato de que nunca na história o indivíduo foi tão elevado acima da sociedade, e satisfazer o próprio desejo tornou-se mais importante do que equilibrar os relacionamentos com o outros. "Nós vivemos dentro da nossa cabeça mais do que qualquer sociedade em qualquer outro momento e, para alguns, agora, a realidade só existe dentro da cabeça deles." Siegel não está condenando e sim apontando o fato de que a tecnologia é neutra e amoral. "A internet", diz, "não criou patologias de comportamento", mas as difundiu e acelerou, como a pedofilia, a violência pornográfica e o isolamento resultante de doença mental.

Ele convida o leitor a considerar o caso do automóvel, o ícone sagrado da prosperidade americana. No começo da década de 60, 50 mil americanos morriam anualmente nas estradas. Havia detalhes de engenharia específicos e conhecidos para alterar a fabricação, mas o carro como símbolo de status e individualismo era intocável. Até que foi publicado o clássico Unsafe at Any Speed (Inseguro a Qualquer Velocidade), de Ralph Nader, sobre a negligência criminosa da indústria de automóveis. O grande público ficou horrorizado, gradualmente os engenheiros passaram a ser ouvidos e milhares de mortes foram evitadas.

As coisas não tinham que ser como eram.

Siegel não sugere que a internet seja letal como o automóvel, é claro, mas compara as duas tecnologias pela sua recepção triunfal e acima da crítica. Ambas foram saudadas sob a retórica da liberdade e da democracia. Siegel lembra a famosa previsão de Lenin sobre o imperialismo como a fase final do capitalismo. Ele discorda: "A fase final do capitalismo, a fronteira sem fundos, é a exposição pública do universo privado, da psique. A privacidade virou performance. É uma transação pública. Against the Machine propõe uma moratória nas platitudes triunfalistas e um resgate da cultura adulta.

Primeiro vamos falar da impressão de que seu livro é "contra" a internet.

Claro que não é. Eu dependo da internet, assim que acabar esta entrevista vou para casa checar meu ranking nas vendas da Amazon. Eu me mantenho ligado no e-mail como se fosse um apêndice. Só acho que a tecnologia deve ser usada com cuidado. Ela deve amplificar nosso humanismo, não nos desumanizar.

Seu problema é com a maneira como o comércio se apropriou da internet?

Sim, desde o princípio. Na verdade, a internet começou como uma iniciativa militar e a comercialização foi imediata. E você pode ver as ramificações a toda hora. O Rupert Murdoch comprou o My Space. A Microsoft tenta comprar o Yahoo. O Google continua a criar todo tipo de estratégia para derrotar a Microsoft. E acho que, no nível pessoal, quando as pessoas entram na internet, com freqüência elas acabam se "empacotando". Não existe mais nada não intencional. Você entra no YouTube, vira a câmera para si mesmo e uma vez que está on camera você muda. A vida muda. Você passa a calcular, perde a espontaneidade, se torna autoconsciente e se apresenta como um pacote.

Uma crítica fácil de fazer a seu livro é que ele foi uma reação ao episódio do pseudônimo no blog, que lhe valeu a suspensão temporária da ?New Republic??

Há uma corrente forte para suprimir qualquer crítica à internet como coisa de reacionário. Eu já fazia críticas há anos, desde 2003, na New Republic, na Slate, no Los Angeles Times - sob meu próprio nome. Umas das coisas que primeiro me incomodaram foi o anonimato. Não podia acreditar que as pessoas pudessem entrar nos sites e, sob a proteção de um pseudônimo, fazer comentários abusivos e até difamar os outros à vontade. Isso me deixava maluco. Eu tinha meu próprio blog na New Republic e passei meses pedindo aos editores para não publicar a baixaria. Até que um assinante, usando pseudônimo, me chamou de pedófilo. "Basta", pensei. "Vou fazê-los provar um pouco do próprio remédio. Vou assumir uma identidade e mostrar como isso acontece." E todo mundo se apressou a me condenar. Foi uma forma de protesto. Acho que se você tem algo a dizer, diga no próprio nome.

Você usa a expressão ?blogofascismo? para definir um aspecto do fenômeno dos blogs. Mas eles foram um resultado natural de uma tecnologia disponível?

Claro, a internet trouxe cenários inevitáveis. Seu valor dominante é a conveniência. E a vida contemporânea, por ter se complicado, depende em grande parte da conveniência. Por isso eu e você adoramos a internet. Mas a conveniência, por si só, pode ser problemática. Se você levantar e sair da sala, posso achar conveniente tirar o dinheiro de sua carteira. Pode ser conveniente trair, roubar mentir ou matar. A internet facilitou muita coisa, mas não necessariamente o que deva ser conveniente. O que se vê na internet é algo novo. Não é cultura de massa no sentido de que é produzida para a massa por um número reduzido de agentes. É cultura produzida pela massa. Este é, a meu ver, o verdadeiro aparecimento da cultura da massa, pela primeira vez. Na cultura, chegamos à ditadura do proletariado que Marx queria ver na economia e felizmente não aconteceu. As vozes mais irresponsáveis, mais barulhentas e agressivas estão erodindo a autoridade do jornalismo tradicional. Quando todos têm o mesmo direito de falar, acaba a discordância. É o igualitarismo antidemocrático. Vivemos um clima de hostilidade ao mérito e ao talento que destaca certas pessoas. Acesso não tem nada a ver com democracia, é um grito de guerra do consumidor. Mas quem fala sobre isto é acusado de elitista.

Há um movimento, liderado pelo professor Lawrence Lessig, de Stanford, que cunhou o termo ?copyleft?. Ele não só condena o excesso de zelo na proteção de copyright como uma forma de engessar a criatividade, mas exalta a internet como a grande ferramenta democratizante.

O Lessig é um cara divertido. Tenho certeza de que é um advogado competente, mas quando começa a falar de cultura, fica engraçado. Ele começa com o papo da democratização e argumenta que você pode mandar um poema de amor para alguém, pode difundir seus hobbies para o mundo. Ele confunde o que a democracia permite - escrever um poema de amor, desfrutar da livre expressão - com o que permite a existência da democracia, um mecanismo político e não cultural.

No livro, você critica programas como o ?Daily Show?, do Jon Stewart, e ?Curb Your Enthusiasm? (com Larry David, criador do ?Seinfeld?) e toda uma tendência de filtrar a realidade por meio da ironia. Você não acha uma vantagem quando jovens que não prestariam atenção ao noticiário são informados por um cômico como o Stewart, que expõe as fraquezas do jornalismo e a hipocrisia do poder?

Primeiro, acho que essa tendência não fortalece a ironia e sim o sarcasmo. Houve uma grande mudança no humor, acelerada também pela internet. Antes, a piada clássica começava assim: "Dois sujeitos entram num bar?", e a piada continuava até a punch line. Agora a piada é: "Dois sujeitos entram num bar? e os dois são gordos!" E todo mundo cai na gargalhada. A internet produz rapidez, agilidade, malícia, crueldade, desrespeito a qualquer forma de autoridade. É isto que esses shows promovem, um prazer em testemunhar o ridículo - seja de Bush ou de um padre flagrado com a mão onde não devia.

Outra crítica importante do livro é sobre a diferença entre informação e conhecimento, uma distinção que está difícil de fazer em relação à web.

Eu tenho um filho de 1 ano e meio. Quando ele nasceu, minha mulher e eu ficamos acessando todo tipo de site médico associado a hospitais respeitados, queríamos nos tranqüilizar sobre cada novo momento. Esse tipo de recurso traz muito alívio. Mas a internet não dá refresco neste país, envia informação sem parar, 24 horas por dia. As histórias importantes se perdem, as questões importantes são relativizadas, tudo se confunde. Eu não preciso saber que alguém levou um tiro num estacionamento no Arizona. Mas eles vão me empurrar essa história e os psicólogos que aparecem e os comentários dos sociólogos e das testemunhas do crime - a coisa parece interminável até o momento em que salta para o próximo assunto - alguém fabricou uma camiseta no Texas que virou um sucesso no mundo todo! E não acaba nunca. É a praga da popularidade. A internet substituiu a cultura popular pela cultura da popularidade. O principal critério de sucesso na internet é popularidade. A cultura popular costumava atrair as pessoas para o que elas gostavam. A internet atrai as pessoas para o que os outros gostam. Então, na home page dos jornais americanos, agora você tem as listas "mais populares, mais enviados por e-mail, mais mencionados em blogs". É patético. E o que acontece com a reportagem sobre uma mulher negra idosa em Chicago, despejada de casa no meio do inverno? É claro que não vai ser popular nem sexy. Você vai ter que ler sobre a Britney Spears ou a Paris Hilton, e esse critério é devastador.

Confesso que, depois de mais de 20 anos na cidade , cometi um gesto impensável para uma jornalista. Deixei de comprar o ?New York Times? uma vez ou outra, leio on line e desconfio que o jornal passou a me irritar por tentar servir a essa tendência de popularidade.

Você tem razão, não há mais a fonte singular de notícias. Eu fiz uma experiência. Passei uma semana sem ler jornal e evitando TV e rádio. Não consegui ficar desinformado. Era só andar de metrô, usar o computador. Despejaram informação em mim, mas não informação relevante. Num futuro não muito distante, a informação vai ser como uma neblina, um miasma, quem sabe, em vez de máscaras de gás, nós vamos ter máscaras de informação para respirar?

Como é o choque de gerações provocado pela cultura digital?

A internet está criando uma estranha geração de jovens de meia-idade, que são padronizados, cautelosos e calculistas. Enquanto isso, os mais velhos, que não cresceram com esse meio, ainda amam os livros, o individualismo dos livros. Eles têm maior tolerância pelos erros. Maior tolerância pelas paixões e as idiossincrasias que são flagradas e ridicularizadas com tanta rapidez na internet. Essa tecnologia é quantificadora, motivada por comercialismo e está roubando a juventude dos jovens. Os defensores da internet não querem admitir isto, mas 80%, talvez 90% do tráfego da internet seja pornografia. A enorme propagação da pornografia pela internet está criando uma incapacidade de ter tesão. Está ficando cada vez mais complicado ter uma ereção. E a pornografia acaba influenciando tudo - é a gratificação instantânea. As pessoas se tornam objetos. Você acessa a internet porque quer alguma coisa, todo mundo quer alguma coisa. As coisas mais explícitas que estão lá do ponto de vista sexual são bastante destrutivas. Há os predadores tentando seduzir crianças. Pessoas que vão reviver os próprios traumas porque estão interagindo com fantasmas. Se não houvesse todo o anonimato, você não teria tanta pornografia - quem é que quer assistir a um filme pornográfico realista, identificar-se como espectador e identificar os personagens? Então o anonimato é um princípio da internet tanto quanto é um princípio da pornografia. Se você não sabe com quem está se relacionando, então não está se relacionando com ninguém. Está apenas projetando, criando um personagem baseado nas suas necessidades e neuroses. Há muita reencenação de trauma na internet, os psicólogos, afinal, estão estudando isso.

E o que é positivo nessa cultura de massa pela massa? Você acha que no jornalismo algo de bom esteja acontecendo como reação às pressões de popularização da internet?

No momento, não. Mas por causa da inquietação da cultura americana e, veja, não estou comentando sobre a cultura da internet em outros países, sujeita a outras variáveis, mas por causa da nossa inquietação, alguma forma de dissidência há de se tornar popular, simplesmente porque o mercado não descansa. Acredito que os adultos vão tomar a cultura das mãos da garotada ou parar de fingir que são os jovens que decidem o que a cultura deva ser. E há de haver alguma maturidade, alguma seriedade, e com isso quero dizer, por exemplo, teremos o riso e traquinagem, ao invés de sarcasmo e deboche, obsessão com popularidade para escola de segundo grau. O livre mercado, que eu defendo, e que é tão importante para a democracia, pode também ser uma calamidade para a cultura popular. Já que o valor dominante é a conveniência, os aspectos mais crassos da cultura são amplificados, tudo requer gratificação imediata. Eu penso sobre o fato de que nós, americanos, temos esses assassinos em massa que entram num local e matam um grande número de pessoas rapidamente. Você já notou que o mesmo dedo usado para double click no teclado é o dedo usado para apertar o gatilho? Como crítico cultural, o que mais me interessa são as vozes originais. E acho que a internet tem um potencial enorme para difundir talentos originais, seja porque não dependem de grandes estúdios de gravação, de grandes editoras, das corporações. Quando espaços não comerciais se protegem do barulho ensurdecedor da massa, vemos florescer muito talento. Sabe o que eu acho que vai acontecer de positivo? A própria internet vai ser usada para combater o lado negativo da internet. Estou esperançoso. A necessidade tipicamente americana de combater o status quo pode ser gratuita, mas pode também ser construtiva. Quem sabe vamos ver nascer a contracultura da internet, um movimento genuíno de dissidência?

http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup133331,0.htm

Como emburrecer americanos

Domingo, 2 de março de 2008
O Estado de São Paulo


NOVA YORK - "A mente deste país, ensinado a almejar objetivos baixos, consome a si mesma". Ralph Waldo Emerson fez esta observação em 1837, mas suas palavras ecoam como um doloroso pressentimento nos Estados Unidos muito diferentes de hoje. Os americanos estão em sérios apuros intelectuais - correndo o perigo de perderem nosso capital cultural, duramente conquistado, para uma mistura virulenta de antiintelectualismo, antirracionalismo e baixas expectativas.

Este é o último tema que qualquer candidato ousaria levantar no longo e sinuoso caminho até a Casa Branca. É quase impossível falar sobre de que forma a ignorância da população contribui para graves problemas nacionais sem ser rotulada de "elitista", um dos mais poderosos pejorativos que podem ser aplicados a alguém que está aspirando a um alto cargo público. Em vez disso, nossos políticos repetidamente garantem aos americanos que eles são apenas "pessoas comuns", um termo condescendente que você procurará em vão nos importantes discursos presidenciais antes de 1980. (Imagine: "Decidimos aqui que os mortos não terão morrido em vão ... e que esse governo das pessoas comuns, pelas pessoas comuns e para as pessoas comuns não perecerá da Terra"). Tais exaltações à mediocridade estão entre os traços que distinguem o antiintelectualismo em qualquer época.

A obra clássica sobre este assunto, de autoria do historiador da Columbia University Richard Hofstadter, Anti-Intellectualism in American Life (Antiintelectualismo na Vida Americana), foi publicada em 1963, entre as cruzadas anticomunistas da era McCarthy e as convulsões sociais do final da década de 1960. Hofstadter vê o antiintelectualismo americano como um fenômeno cíclico - que freqüentemente se manifestou como o lado negro dos impulsos democráticos do país em religião e educação. Mas o tipo de antiinlectualismo de hoje é menos um ciclo do que uma avalanche. Se Hofstadter (que morreu de leucemia em 1970 aos 54 anos) tivesse vivido o suficiente para escrever uma seqüência dos tempos modernos, teria concluído que nossa era de programas de TV que misturam notícia com matérias de entretenimento, sete dias por semana e 24 horas por dia, sobrepujaram suas previsões mais apocalípticas sobre o futuro da cultura americana.

A mediocridade, para parafrasear o falecido senador Daniel Patrick Moynihan, tem sido continuamente definida, em várias décadas, por uma combinação de forças até agora irresistíveis. Essas forças incluem o triunfo da cultura do vídeo sobre a cultura impressa (e por vídeo quero dizer qualquer tipo de mídia digital, assim como as mídias eletrônicas antigas); um descompasso entre o nível em elevação da educação formal dos americanos e seu domínio titubeante de geografia, ciências e história básicas; e a fusão do antirracionalismo com o antiintelectualismo.

Primeiro e acima de tudo, entre os vetores do novo antiintelectualismo, está o vídeo. O declínio da leitura de livros, jornais e revistas é agora uma história velha. A falta de leitura é mais acentuada entre os jovens, mas continua a se acelerar e a afligir americanos de todas as idades e níveis de instrução.

Segundo um relatório divulgado no ano passado pela National Endowment for Arts, o hábito da leitura decaiu não apenas entre as pessoas com baixos níveis de instrução. Em 1982, 82% das pessoas com curso superior liam romances e poemas por prazer; duas décadas mais tarde, essa porcentagem era de somente 67%. E mais de 40% dos americanos com menos de 44 anos não leu um único livro - de ficção ou não-ficção - no decorrer de um ano. A proporção de jovens de 17 anos que não lêem nada (a não ser o exigido pela escola) mais do que dobrou entre 1984 e 2004. Este período de tempo, é claro, abarca o surgimento dos computadores pessoais, a navegação na web e os jogos de vídeo.

Será que isso importa? Tecnófilos ridicularizam as lamúrias sobre o fim da cultura escrita como a auto-absorção de (quem mais?) os elitistas. No seu livro Everything Bad is Good For You: How Today?s Popular Culture Is Actually Making Us Smarter (Tudo que é Ruim é Bom para Você: Como a Cultura Popular de Hoje Está, na Verdade, nos Tornando mais Inteligentes), o escritor científico Steven Johnson nos assegura que não temos nada com o que nos preocupar. Certo, os pais podem ver seus "filhos vibrantes e ativos olhando, silenciosamente e boquiabertos, para uma tela". Mas estas características de zumbi "não são sinais de atrofia mental. São sinais de concentração". Tolice. A verdadeira questão é o que crianças pequenas estão deixando de fazer e não no que estão se concentrando, enquanto estão hipnotizados por vídeos que já viram dezenas de vezes.

A despeito de uma agressiva campanha de marketing que visa encorajar os bebês a partir dos seis meses a assistir vídeos, não há indícios de que se concentrar na tela seja ruim para crianças pequenas. Num estudo divulgado em agosto do ano passado, pesquisadores da Universidade de Washington concluíram que bebês com idade entre 8 e 16 meses reconheceram uma média de seis a oito palavras a cada hora gasta assistindo vídeos.

Não posso provar que ler durante horas numa casinha de brinquedo instalada em cima de uma árvore (era o que eu fazia quando tinha 13 anos) cria cidadãos mais informados do que ficar horas e horas jogando o Xbox da Microsoft ou obcecados com os perfis da comunidade virtual Facebook. Mas a incapacidade para se concentrar durante longos períodos de tempo - diferente das breves leituras para obter informações na Web - me parece intimamente relacionada com a incapacidade da população de lembrar-se até de eventos noticiosos recentes. Não é de espantar, por exemplo, que estejamos ouvindo menos da parte dos candidatos à presidência sobre a guerra no Iraque nos estágios mais recentes da campanha das primárias do que nos primeiros momentos - simplesmente porque tem havido menos reportagens em vídeo sobre a violência no Iraque. Os candidatos, como os eleitores, enfatizam as notícias mais recentes e não necessariamente as mais importantes.

Não é de espantar que anúncios políticos negativos funcionem. "Com texto, é até fácil manter um acompanhamento dos diferentes níveis de autoridade por trás das diferentes peças de informação", observou o crítico de cultura Caleb Crain recentemente na revista The New Yorker. "Por outro lado, a comparação entre duas reportagens em vídeo é consternadora. Obrigados a escolherem entre reportagens conflitantes na televisão, os telespectadores recorrem à intuição ou àquilo em que acreditavam antes de começar a assistir".

Na medida que os consumidores de vídeo se tornam progressivamente mais impacientes com o processo de adquirir informações por meio da língua escrita, todos os políticos se vêem fortemente pressionados a transmitir suas mensagens o mais rapidamente possível - e a rapidez hoje é muito mais célere do que costumava ser. Kiku Adatto, da Harvard University, descobriu que, entre 1968 e 1988, a média de trechos editados de notícias sobre um candidato à presidência - apresentando a voz do próprio candidato - caiu de 42,3 segundos para 9,8 segundos. De acordo com um outro estudo de Harvard, em 2000, essa fala diária por candidato foi de apenas 7,8 segundos.

A diminuição do espaço da atenção pública fomentada pelo vídeo está intimamente ligada à segunda força antiintelectual mais importante na cultura americana - a erosão do conhecimento geral.

As pessoas acostumadas a ouvirem seu presidente explicar escolhas políticas complicadas dizendo abruptamente "Sou eu quem decide" talvez não consigam imaginar o esforço de Franklin D. Roosevelt, nos sombrios meses após Pearl Harbor, para explicar porque as Forças Armadas dos Estados Unidos estavam sofrendo uma derrota após a outra no Pacífico. Em fevereiro de 1942, Roosevelt pediu aos americanos que abrissem um mapa durante seu programa de rádio para que pudessem entender melhor a geografia das batalhas. Os mapas se esgotaram nas lojas de todo o país, e cerca de 80% dos americanos ligavam o rádio para ouvir o presidente. FDR disse a seus redatores de discurso que estava certo que, se os americanos tinham entendido as imensas distâncias que os suprimentos tinham que percorrer para chegarem às Forças Armadas, "eles podem receber qualquer tipo de má notícia com bravura".

Este é um retrato não apenas de uma presidência e um presidente diferentes como também de um país e de cidadãos diferentes - um país que não tinha acesso aos mapas do Google mas era muito mais receptivo ao conhecimento e à complexidade que a população de hoje.

Segundo um levantamento de 2006 da National Geographic-Roper, quase metade dos americanos com idade entre 18 e 24 anos não acha necessário saber a localização de outros países nos quais importantes acontecimentos estão sendo objeto de notícia. Mais de um terço da população acha que "não tem nenhuma importância" saber uma língua estrangeira, e somente 14% consideram importante o conhecimento de línguas estrangeiras.

Isso nos conduz ao terceiro e último fator que está por trás do emburrecimento americano: o problema não é a falta de conhecimento em si, mas a arrogância em relação a essa falta de conhecimento. A questão não é apenas as coisas que não sabemos (considere o fato de que um em cada cinco americanos adultos pensa que o Sol gira em torno da Terra, segundo a National Science Foundation) - mas o alarmante número de americanos que, presunçosamente, concluem que não precisam saber tais coisas em primeiro lugar. Chame isso de antirracionalismo, uma síndrome particularmente perigosa para nossas instituições e intercâmbio de idéias. Não saber uma língua estrangeira nem a localização de um país importante é uma manifestação de ignorância; negar que tal conhecimento importa é puro antirracionalismo. A venenosa mistura de antirracionalismo com ignorância prejudica as discussões da política pública nos Estados Unidos sobre tópicos que vão desde assistência médica à tributação.

Não existe uma cura rápida para esta epidemia de antirracionalismo e antiintelectualismo arrogantes. Esforços repetidos para elevar as notas dos testes padronizados abarrotando os alunos com respostas específicas para perguntas específicas em testes específicos não adiantarão. Além disso, as pessoas que são exemplos do problema geralmente não o percebem. ("Pouquíssima gente acredita ser contra o pensamento e a cultura", observou Hofstadter.) Já está mais do que na hora de uma discussão nacional séria sobre se nós, como uma nação, valorizamos verdadeiramente o intelecto e a racionalidade. Se esta de fato se tornar uma "eleição de mudança", o baixo nível do discurso num país com uma mente ensinada a almejar objetivos baixos precisa ser o primeiro item da agenda de mudança.

* A premiada escritora americana Susan Jacoby é autora, entre outros, de The Age of American Unreason. É colaboradora dos principais jornais americanos e ingleses

http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup133332,0.htm

A Vaidade que limita

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Narcissus.(1597?) Oil on canvas. Palazzo Barberini, Rome, Italy

Caravaggio

A vaidade, assim como a amargura, pode nos limitar ao ponto da paralisia.
Quando focamos apenas a aparência - ou "aparências" - limitamos o nosso campo de percepção enormente.




O mito de Narciso - A origem da vaidade

- Narciso,Eco ( por Ovídio):


Tirésias, cuja grande fama se espalhara pelas cidades da Aônia, dava respostas infalíveis às pessoas que o consultavam.

A primeira a experimentar a veracidade de suas palavras foi a cerúlea Liriope, que outrora o Cefiso enlaçara nas curvas de seu curso, e, uma vez presa, a violentara.

Belíssima, engravidou-se e deu à luz um filho , já então digno de ser amado pelas ninfas,a quem chamou Narciso.

Consultando a seu respeito, se o menino viveria muito, se teria uma velhice prolongada, o adivinho respondeu: "Se não se conhecer".

Por muito tempo as palavras do áugure pareceram destituídas de sentido. Mostraram seu acerto a maneira com que se desenrolaram os acontecimentos, o modo como morreu Narciso e a estranheza de sua loucura.

O filho de Cefiso tinha, então, dezesseis anos, e podia ser tomado tanto por um menino como por um moço.

Muitos jovens e muitas jovens o desejam, mas - tanta tão rude soberba acompanhava suas formas delicadas nenhum jovem, nenhuma jovem o tocara. Quando olhava os trêmulos veados apanhados nas redes, a ninfa de voz sonora, que não responde pelo silêncio a quem lhe fala, e nem fala em primeiro lugar, a ressonante Eco, o viu.

Eco tinha, então, um corpo, não era voz apenas; no entanto, já era loquaz e usava da boca, como ainda hoje, para repetir a última de muitas palavras, como faz agora.

Juno foi a causadora, pois, quando tinha oportunidade, muitas vezes, de surpreender ninfas deitadas na montanha com seu Júpiter, a esperta Eco a detinha, conversando muito, enquanto as ninfas fugiam.

Percebendo tal coisa, disse a filha de Saturno: "Com essa língua, que tanto me fez ser iludida, pouco poderás fazer e terás um uso brevíssimo das palavras."E executa a ameaça: quando alguém acaba de falar, Eco só pode repetir o que ouviu. Então, quando ela viu Narciso andando sem destino pelos campos, e se apaixonou, seguiu-lhe os passos furtivamente; quanto mais o segue, mais se aquece ao calor da chama, do mesmo modo que o inflamável enxofre, com que se reveste a extremidade das tochas, se queima ao aproximar-se do fogo.

Quantas vezes ela quis aproximar-se, com palavras carinhosas, e dirigir-lhe ternas súplicas! Sua natureza a impede de falar em primeiro lugar. Permite-lhe, porém, e ela se dispõe a isso, esperar os sons e devolver-lhe as próprias palavras.
Por acaso, o adolescente, separado do grupo fiel de seus companheiros, perguntara:

"Aqui não há alguém?"

"Há alguém", respondera Eco.

Ele se admira, e olha em torno.

"Vem!", grita muito alto;

Eco repete o convite.

Ele olha para trás, e, não vendo ninguém aproximar-se, pergunta:

"Por que foges de mim?"E ouve as mesmas palavras que dissera.

Insiste,e, iludido pela voz que responde à sua, convida:

"Vem para junto de mim, unamo-nos!"

A nada Eco respondera com mais boa vontade: "Unamo-nos!"

Ajunta o gesto à palavra e, saindo da floresta, avança para abraçar o desejado.

Ele foge, e diz, ao fugir: "Afasta-te de mim, nada de abraços! Prefiro morrer, não me entrego a ti!"

Eco repetiu somente: "Me entrego a ti!"
Desdenhada, esconde-se na floresta e protege com flores o rosto corado de vergonha,e, desde então, vive naquelas grutas isoladas.Seu amor, no entanto, é perseverante, e cresce com a amargura da recusa.

As preocupações incansáveis consomem seu pobre corpo, a magreza lhe encolhe a pele, a própria essência do corpo se evapora no ar.

Sobrevivem, no entanto , a voz e os ossos.

A voz persiste; os ossos, dizem, assumiram o aspecto de pedra.

Assim, ela se esconde nas florestas, e não é vista nas montanhas. É ouvida por todos; é o som que ainda vive nela.


Assim Narciso decepcionara Eco e outras ninfas nascidas nas águas e nos montes, e, antes delas, outros jovens.

Despeitado, um deles ergueu as mãos para o céu, exclamando: "Que ele ame, por sua vez, e não possa possuir o objeto amado!"disse.

A deusa de Ramnonte atendeu a essa justa prece.
Havia uma fonte de água muito pura, brilhante e prateada, da qual jamais haviam se aproximado os pastores nem as cabras que pastavam na montanha, nem qualquer outro gado, que jamais fora perturbada por qualquer ave, por qualquer animal selvagem, por qualquer ramo caído de uma árvore.Era rodeada pela grama, que chegava até junto da água, e a floresta impedia que o sol esquentasse o lugar.

Ali, o adolescente, cansado pelo esforço da caça e pelo calor, estendeu-se no chão, a traído pelo aspecto do lugar e pela fonte.

Mas, logo que procura saciar a sede, uma outra sede surge dentro dele. Enquanto bebe, arrebatado pela imagem de sua beleza que vê, apaixona-se por um reflexo sem substância, toma por corpo o que não passa de uma sombra. Fica extático diante de si mesmo, imóvel, o rosto parado, como se fosse uma estátua de mármore de Paros. Deitado no chão, contempla dois astros, seus olhos, os cabelos dignos de Baco e de Apolo, o rosto imberbe, o pescoço ebúrneo, a linda boca e o rubor que cobre a cútis branca como a neve. Admira tudo, pelo que é admirado ele próprio. Deseja a si mesmo, em sua ignorância, e, louvando, é a si mesmo que louva. Inspira a paixão que sente, e, ao mesmo tempo, acende e arde.

Quantas vezes beijou em vão a água enganosa! Quantas vezes, para abraçar o pescoço que via, mergulhou os braços na água, sem conseguir abraçar-se!

Não sabe o que vê; mas o que vê o inflama, e o mesmo erro que ilude seus o lhos lhe excita o desejo. Crédulo, o que consegues com esses vãos esforços? Não existe o que procuras. Afasta-te do que amas, e o verás desaparecer. Essa sombra que vês é o reflexo de tua imagem. Nada é por si mesma. Contigo, ela aparece e permanece; com tua partida desaparecerá, se tiveres a coragem de partires.
Nem os cuidados com a alimentação nem com o repouso, todavia, podem afastá-lo dali; estendido
na espessa relva, contempla, insaciável, a imagem mentirosa, e perde-se devido aos próprios olhos.

Erguendo-se um pouco, estende os braços para a floresta que o cerca. "Alguém, ó floresta, sentiu mais cruelmente o amor?", pergunta. "Vós os sabeis e, para muitos, fostes um oportuno refúgio.

Vós, cuja existência atravessou tantos séculos, lembrais, durante todo esse longo tempo, de alguém que tenha sofrido assim?

Estou apaixonado, e vejo, mas não posso alcançar o que vejo e me seduz; a tal ponto erro como amante. E, para agravo de minha dor, não nos separa nem o mar imenso, nem a distância, nem montanhas, nem muralhas com portas fechadas, mas uma simples camada de água. Ele próprio aspira a ser possuído, pois cada vez que beijamos a água cristalina, ele procura atingir com a sua a minha boca. Dir-se-ia que podes tocá-la, tão pequeno é o obstáculo que nos impede de amarmo-nos.

Sejas quem fores, vem! Por que me engans, jovem sem-par? Aonde vais quando te procuro? Certamente, não tenho uma aparência ou uma idade para te fazer fugir. As ninfas também me amaram. Em teu rosto amigo promete-mes não sei qual esperança, e quando te estendo os braços , estendes, por tua vez, os teus; quando sorrio, sorris; também muitas vezes vi correrem lágrimas dos teus olhos quando eu chorava; a uma inclinação de cabeça, respondias da mesma maneira;e, tanto quanto posso adivinhar pelos movimentos de tua linda boca, dizes-me palavras que não chegam aos meus ouvidos.

Somos o mesmo! Não me iludo mais com a minha imagem. É por mim que ardo de paixão e sinto e ateio ao mesmo tempo esse fogo. Que fazer? Ser rogado ou rogar? E o que, de agora em diante, poderei rogar? O que desejo está comigo; a riqueza me faz pobre. Oh! se eu pudesse separar-me do meu próprio corpo! Desejo desusado em um amante, queria estar separado do que amo! E já o sofrimento abate o meu vigor, não me resta muito mais tempo a viver e me extingo na flor da idade. A morte não me assusta, pois com a morte aliviarei o sofrimento. Para aquele que amo desejaria vivesse mais. Agora, exalaremos juntos o último suspiro."
Disse, e, com a razão perturbada, voltou à mesma contemplação. As lágrimas turvaram as águas e, no lago agitado, a imagem se tornou indistinta.

E, ao vê-la desfazer-se, ele gritou: "Para onde foges?Fica, não me abandones, cruel, eu que te amo! Que me seja permitido olhar o que não posso tocar e alimentar a minha triste loucura". Enquanto se lamenta, abre as vestes, desde o alto, e esmurra o peito nu com as mãos esculturais. Com as pancadas, o peito se tinge de vermelho, como acontece com as frutas, que, alvas em parte, em parte enrubescem, ou como, nos cachos variegados, a uva, ainda verde, se colore de púrpura. Quando o viu, na água cristalina de novo, não pôde suportar por mais tempo, mas, como costumam se derreter a loura cera ao leve calor do fogo ou o orvalho matinal ao morno sol, assim, esgotado pelo amor, ele definha, e um fogo secreto o consome, pouco a pouco.

Agora, sua cútis já não oferece a alvura misturada ao rubor; nem restam o vigor e o ânimo que seduziam os seus olhos; nada resta do corpo que outrora Eco havia amado. Essa, ao ver tal coisa, embora ainda ressentida com o agravo, apiedou-se, e todas as vezes que o infortunado adolescente exclamava "Ai!", ela repetia "Ai!" Quando as mãos lhe esmurram os braços, ela repetiu com sua voz o ruído das pancadas.

Foram as últimas palavras de Narciso com os olhos postos naquela água já tão conhecida: "Ah, querido em vão!", e o local devolve todas as palavras. E dizendo "Adeus!", responde Eco "Adeus!"

Ele repousa na verde relva a cabeça fatigada, e a noite fechou-lhe os olhos cheios de admiração pelo dono. E mesmo depois de ter sido recebido no inferno, ainda se olhava na água do Estige. As náiades, suas irmãs, choraram em altas vozes e depositaram os seus cabelos no túmulo do irmão; choraram as dríades; Eco repete os seus lamentos, e elas já preparavam a pira, as tochas e o féretro. Em lugar do corpo, acharam uma flor dourada, rodeada de folhas brancas.



Metamorfose de Narciso (1937)Salvador Dali

É festa no chiqueiro!!!!!



Só pra constar.....

A Leveza não se sustenta

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Women Running on the Beach. 1922. Oil on plywood. Musée Picasso, Paris, France
Pablo Picasso



Porque preferimos relações "pesadas"?
Li nos últimos dias "A Insustentável Leveza do Ser" e poucas vezes aconteceu de uma leitura ser tão apropriada para um momento.
Escrevendode maneira simples Milan Kundera faz reflexões profundas e interessantes a respeito das nossas opções entre esses dois extremos durante a vida; o peso e a leveza nas relações humanas, mas não só,e nos surpreende quando nos faz encarar o fato de que muitas vezes optamos pelo que nos pesa.
Por uma necessidade, talvez (poucas vezes assumida) do que nos dê a impressão de maior realidade, como se nos mantivesse rente à terra.
Vale a pena a leitura se alguma vez já se surpreendeu com questionamentos assim.

Manao Tupapau or Spirit of the Dead Watching(1892) Oil on burlap mounted on canvas
Paul Gauguin