Brasil sério e previsível.

quarta-feira, 30 de abril de 2008



Quem diria...Brasil é sério e previsível, segundo Mantega, na entrevista sobre o fato de que a Standard & Poor's , agência avaliadora de riscos para investimentos e resistente a avaliar o Brasil com melhor nível de classificação de risco de dívida,o Investment Grade, finalmente fê-lo hoje.
Antes do Brasil, Peru México e Chile já haviam obtido a mesma classificação.
Ok, em muitos setores o Brasil conquistou a duras penas uma estabilidade.
Mas o que ainda mais vemos mesmo é estagnação. Várias reformas que não andam, obras de infra-estrutura urgentes enroscadas na burocracia,(ou sabe-se lá em que mais).
Temo visto um certo esforço com as obras do PAC em ano de eleição.
Ontem senhor Lula fez uma delaração que me provocou uma risada divertida quando disse que se fizessem clima de campanha para seu palanque nas obras do P.A.C. só dificultariam o andamento das coisas.

Esse presidente é uma figura...

A minha impressão, falando de verdade, é que o Brasil tá sempre chegando depois; está chegando ao capitalismo numa época em que é urgentíssimo discutir as sua deficiências, sob pena do mundo não suportar o consumo cada vez mais crescente. O Brasil descobre petróleo quando o mundo deveria sim, discutir os bio-combustíveis.
E ainda temos que lidar com a tremenda "sacanagem' externa. Palavras de Lula.

Choque e maturidade depois de Isabella


Muito se evidenciou com a tragédia de Isabella.

Nossa polícia, mesmo sob extrema exposição, não conseguiu disfarçar a imaturidade, deixando à vista uma maneira de proceder que já faz a festa da defesa, essa também sob holofotes.

Mesmo a mídia mais séria não entendeu a comoção, não percebeu uma boa parte da população genuinamente angustiada,com sentimentos nobres de achar a verdade, presa na sua curiosidade pelo contraditório e não pela morbidade da história, como foi presumido por ser comum em casos assim.

A morte de crianças pelos próprios pais é um escândalo diário aqui, apesar de nossa idéia de família sagrada.Não conseguimos encarar seriamente o fato de que nem todo mundo deveria criar filhos; estamos convivendo com um grande enfoque na individualidade e pouca estrutura social, evidenciando desequilíbrios emocionais em vários níveis.

É impressionante a pouca atenção que damos culturalmente à saúde emocional e mental, ainda assim.

So pra recordar....

terça-feira, 29 de abril de 2008




Roda-viva
Chico Buarque


Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa no nosso destino mandar
Mais eis que chega a roda-viva e carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante; Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente até não poder resistir
No volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva e carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata, não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata, a roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva e carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva e carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração

O insatisfeito revolucionário e o conservador em todos nós.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

MAIO DE 68




Alemanha


Brasil


França


Estados Unidos

Todos temos dentro de nós um insatisfeito com quem detém o poder, todos temos um revolucionário revoltado que faria pelo menos melhor.
Seríamos mais justos, competentes,humanos.

Estamos prestes a completar 40 anos do chamado "maio de 68" quando milhares de jovens saíram às ruas querendo mudar o mundo.

Esse movimento adquiriu várias caras se adaptando às realidades diversas de vários países.

Como era o mundo em 68?
O comunismo ainda era uma grande promessa de mundo mais justo?

Ou eram várias as vozes unidas na insatisfação ?

Quais eram os milhares de pensamentos e idéias e como provocaram muito do que hoje chamamos de realidade?

O que herdamos de tudo o que houve, e o que podemos aprender da força que tem a insatisfação e impulso de mudança em qualquer nível, até pessoal?

A vida é feita de conservação e mudança que naturalmente se alternam.

Mas comumente se convertem em estagnação ou seu contrário, a total falta de compromisso com qualquer coisa, insatisfação crônica.

Como está o revolucionário e conservador dentro de você,duas energias tão vitais?

O que aprendemos olhando tudo aquilo com os olhos de hoje?


Folha de São Paulo


15/04/2008 - 17h56
Maio de 68 ainda divide franceses, 40 anos depois




Anne-Laure Mondesert, da France Presse em Paris

Formidável impulso de liberdade, ou símbolo da decadência e do relativismo: 40 anos depois do Maio de 68, essa revolta estudantil que agitou a sociedade francesa continua a provocar debates apaixonados, atiçados pela insistência do presidente da França Nicolas Sarkozy em "liquidar" sua herança.

O 40º aniversário dos acontecimentos de Maio de 68 é marcado, na França, por uma avalanche de publicações - mais de 100 livros se dedicam ao tema -, edições especiais de jornais e programas na TV, um sinal do interesse intacto por esse marco da história contemporânea do país.

Esse movimento estudantil, que se propagou por toda a sociedade e provocou uma greve geral que paralisou o país por um mês, alcançou a dimensão de um mito, opondo dois campos: "os guardiães do templo" e "os revanchistas", avalia o sociólogo Jean-Pierre Le Goff.

"A sociedade francesa oscila entre fascinação e rejeição, não consegue criar um distanciamento crítico, inserir o 68 na História", avalia o autor do livro "Mai 68, l'héritage impossible" ("Maio de 68, a herança impossível", ainda sem tradução em português).

Com suas barricadas no Quartier Latin, em Paris, faculdades ocupadas por estudantes e slogans libertários que se tornaram célebres, como "é proibido proibir", o evento de Maio de 68 é, regularmente, acusado pela direita francesa de ter causado a destruição dos valores morais e a falência do sistema educacional.

Quando era candidato, o agora presidente Nicolas Sarkozy fazia um apelo aos franceses, em abril de 2007, para "romper" com o "cinismo" do Maio de 68, que teria "acabado com a diferença entre o bem e o mal, entre o verdadeiro e o falso, entre o bonito e o feio". Os protestos foram imediatos na esquerda.

Os acontecimentos de Maio também serviram de estopim para evoluções que poucos pensam em questionar hoje. A sociedade francesa dos anos de 1960, sob o general De Gaulle, era uma sociedade "rígida, fechada", lembra o historiador Michel Winock.

Na época, as mulheres não podiam trabalhar de calça comprida, a pílula tinha acabado de ser autorizada, o divórcio por consenso mútuo não existia, os feriados pagos não eram para todos, e a censura vigorava, sobretudo na TV.

Para eles, Maio de 68 teve uma influência "mais do que positiva" na divisão de tarefas entre homens e mulheres (80%), na sexualidade (72%), ou na relação entre pais e filhos (64%).

Quarenta anos depois, os estudantes franceses ainda vão às ruas para se manifestar, mas a crítica radical ao sistema acontece por meio de combates mais pragmáticos.

"A juventude mudou muito em relação a 68. Suas condições de vida se degradaram muito; suas preocupações em relação ao futuro - com o desemprego - são maiores; o que explica as formas de engajamento mais materiais", analisa Jean-Baptiste Prévost, presidente do sindicato estudantil Unef.

Hoje, a sociedade "tem outros problemas", diferentes daqueles de 1968, resume o ex-líder estudantil Daniel Cohn-Bendit, hoje deputado alemão.

No livro "Forget 68", esse homem ainda considerado por muitos como a encarnação do Movimento de Maio --e, por isso mesmo, onipresente no momento na mídia francesa--, pede que virem a página.

Nesse sentido, ele rejeita, com ironia, às críticas de Sarkozy. Para ele, o presidente de direita, que se divorciou duas vezes, é um "sessenta e oitentista", que retomou o slogan de 68 "gozar sem freios" para si mesmo.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u392427.shtml

A dignidade altiva de Isabella

sábado, 26 de abril de 2008



Amanhã teremos mais show e angústia na cobertura da reconstituição do crime.
Provavelmente a mídia se ocupará de descrever a tortura, a covardia, o terror dessa história.
Mas nem assim Isabella se transformou só numa menininha coitadinha ou tragicamente mal compreendida na peraltice.

Resolvi falar sobre um sentimento que provavelmente existiria em qualquer caso assim, mas é especialmente particular nesse; a incrível altivez na imagem dessa menina de seis anos.


Não se trata aqui de santificação em decorrência de uma morte trágica, longe disso.
Nem isso combina com a imagem que nos passaram de Isabella, incuindo aí os próprios acusados.
Me parece mais a imagem de uma menina que insistia corajosamente e quem sabe?....incomodativamente em existir e ser feliz em meio à insegurança e mesquinhez adultas.

A Persistência da Memória.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

The Persistence of Memory.(1931) MoMA, New York - Oil on canvas Salvador Dali


Há comentários diversos sobre esse quadro de Dali; sobre
esses relógios representando uma memória que persiste, mesmo que adquirindo
uma forma não fixa, maleável -como qualquer memória - já que traz
sempre com ela, emotividade.
Como a razão de qualquer pintura estar aqui é subjetiva, essa lembrança da nossa relação com a memória me desperta para o fato de que nem sempre é uma relação confortável.

Na memória das escolhas, uma certa angústia, sempre.
Se somos o resultado do que escolhemos ser, somos
também o resultado do que escolhemos não ser, ou desistimos de
ser.
Somos, também o resultado de nossas desistências.

Sobre negros brasileiros e americanos

quinta-feira, 24 de abril de 2008

estátua de Pixinguinha

Achei interessante registrar o ponto de vista de Julio Medaglia no Roda Viva sobre a negritude no Brasil sob a perspectiva musical e por consequência,cultural.

Não sei se vou saber reproduzir com fidelidade o que ele disse,mas comparando com o rap americano, agora mimetizado na periferia brasileira, o maestro disse que a inserção do negro na cultura musical e artística brasileira, aconteceu desde muito cedo,e que a figura do negro na música sempre foi majestática, charmosa, e ele não entende o negro brasileiro ultimamente querer se espelhar no negro americano na maneira de andar, vestir.

Citou figuras como Pixinguinha e Paulinho da Viola,(dos que eu me lembro).

Não dá pra negar que a história do negro nos E.U.A, levando ao enfrentamento, à politização,à reivindicação; produziu resultados muito diferentes do brasileiro; e que nem sempre o "charme negro", reverenciado aqui principalmente no carnaval,trouxe resultados concretos no dia a dia.

Mas que o negro brasileiro quando cheio de auto-estima, é muito mais interessante e charmoso que seu equivalente americano, não dá pra negar.

Saturno (Cronos) Tempo e Realidade

sábado, 19 de abril de 2008

passagem do tempo,

Saturno(Cronos)

Outro dia vi uma explanação no café filosófico sobre religião, como uma necessidade de escapar do tempo. A idéia de tempo como esse ser que vence e desaparece com tudo, e desaparecerá não só com você, mas com todo o mundo que você conhece hoje.

Para exemplificar a ação do tempo,se retirássemos o homem da terra hoje, a natureza venceria tudo o que aí está e em algumas centenas de anos a terra voltaria a ser só florestas, rios e vida natural, com pouco sinal aparente de toda a civilização humana.Tudo o que aí está e é conhecido como realidade por você hoje pode ser vencido pelo tempo.

Por essa sensação ser tão assustadora, precisamos de valores que nos dão a sensação de vencê-lo, estamos sempre tentando alcançar o imutável.
As vezes conseguimos.
É quando temos a sensação de que "o tempo parou".
Ou, também,na sensação de lidar com o sagrado.

Perdoem minha cultura de almanaque (ou melhor, de televisão)....

Mas vi outro dia uma entrevista de um filóso, Luc Ferry, sobre o que ainda consideramos sagrado, pelo qual ainda daríamos a vida, ele dizendo que pelo menos na cultura ocidental, o que ainda nos resta de sagrado é a família, ou especificamente os filhos.Que poderíamos dizer que o homem ocidental, num âmbito geral, só consideraria sacrificar sua vida por um filho.

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM773771-7823-LUC+FERRY,00.html



Em situações em que preferimos nós à vida de um filho, o que resta??


Saturno em astrologia também representa a realidade. A realidade pode ser a nossa percepção do tempo que passa, mas num sentido mais amplo ela pode aparecer toda vez que o nosso "ideal" é atacado pela simples percepção de que o que resulta do ser humano na terra é muito pior do que gostamos de admitir.

Somos mais egoístas, mais competitivos, mais frios do que admitimos.
Na prática, nos preocupamos muito menos com a fome, a privação e tristeza alheia do que transparecemos.

Toda a vez que temos um "choque de realidade", em que nível seja, se se opondo ao nosso brilho individual, a essa idéia de que somos, de alguma maneira, especiais, essa sensação de um ambiente exterior muito mais cínico e cruel do que gostaríamos, estamos nos deparando com o tal Saturno, segundo a astrologia.

sexta-feira, 18 de abril de 2008




Há mais frieza e oportunismo ou indignação e pressão legítima no acompanhamento do caso por parte da imprensa, telespectadores e pessoas da rua?

Difícil precisar.

Mas penso que há muito do que eu mesma senti, por aí.

Fui presa por um impulso de entender o que houve realmente, querendo montar meu próprio quebra cabeças, já que esse caso nos faz de júri desde o primeiro momento.
Além dessa doída empatia por Isabella. Por que?

Por ser de classe média? Acredito que não.Talvez, por ela passar uma imagem de felicidade e confiança, e ter sido traída. Talvez.

Mas cenas de quase linchamento público, e o tal "alô mamãe" de muita gente que vai ao local, são constrangedores.

A imprensa, a morte de Isabella e a comoção pública

quinta-feira, 17 de abril de 2008





Observatório da Imprensa


CASO ISABELLA NARDONI
De juristas, jornalistas e truísmos

Por Fábio de Oliveira Ribeiro em 8/4/2008



A misteriosa morte da garota Isabella Oliveira Nardoni – que teria caído ou sido jogada de uma janela – e a subseqüente cobertura da mídia despertaram a atenção dos especialistas. Em razão de a mídia enfatizar a culpa do principal suspeito, o caso Nardoni está sendo comparado ao da Escola de Base, em que os donos foram injustamente crucificados pela imprensa e posteriormente inocentados pelo Poder Judiciário [ver "Caso Isabella Nardoni é uma nova Escola Base?"].

O episódio mostra novamente que os juristas e os jornalistas não fazem o mesmo juízo de valor sobre as normas jurídicas e sobre os fatos. Quando se deparam com fatos possivelmente criminosos, os jornalistas se apressam. Os juristas, por sua vez, precisam manter-se calmos e pacientes.

Em seu livro Jornalismo e desinformação, o jornalista Leão Serva discorre sobre as limitações impostas ao jornalismo. "O jornalismo tem como matéria-prima o fato novo, desconhecido, que pode causar surpresa. E que por isso é confuso, incompreensível, caótico." Desta definição podemos inferir que, em razão de sua própria finalidade e característica, o jornalismo está fadado a mutilar a realidade e a história. Leão Serva deixa bem claro que, ao invés de procurar proporcionar ao leitor uma compreensão profunda dos fatos que enuncia, o jornalismo se preocupa apenas com a novidade. "A novidade é a alma do negócio da imprensa. Nessa busca pela novidade, mesmo velhos fatos devem aparecer vestidos de novos, maquiados para voltar a surpreender."

Conclusões apressadas

Ao contrário dos jornalistas, os juristas precisam sempre procurar ajustar os fatos às normas jurídicas que estão vigor no momento em que ocorreram. Mas mesmo quando pesquisam fatos, os juristas são obrigados a fazê-lo com respeito às normas básicas prescritas na Constituição Federal: os cidadãos têm direito à defesa, ao devido processo legal e aos meios de provas legítimos; todos são presumivelmente inocentes. Em razão de sua natureza e seriedade, o trabalho do jurista é necessariamente lento e cuidadoso.

Os jornalistas cavam novidades sobre a pressão do tempo. Os fatos de hoje se tornam velhos amanhã. O jornalismo vive de furos, de novidades e mesmo quando recorre às notícias requentadas procura dar-lhes alguma característica nova.

Quando se deparam com um fato que pode constituir um crime, em razão das limitações de sua profissão, os jornalistas são tentados a ignorar as normas jurídicas. Não é raro que tirem conclusões apressadas. Na melhor das hipóteses, nutrem a certeza inabalável de que todos os equívocos que cometerem hoje poderão ser desfeitos na edição de amanhã.

Excessos jornalísticos

O problema é que as conclusões apressadas se propagam. Em sua obra Sobre a televisão, Pierre Bourdieu nos dá um panorama bastante interessante sobre a circulação circular da informação. "Para os jornalistas, a leitura dos jornais é uma atividade indispensável e o clipping um instrumento de trabalho: para saber o que os outros disseram. Esse é um dos encanemos pelos quais se gera a homogeneidade dos produtos propostos." Segundo Bourdieu, nas "...equipes de redação, passa-se uma parte considerável do tempo falando de outros jornais e, em particular, do que ‘eles fizeram e que nós não fizemos’ (‘deixamos escapar isso!’) e que deveriam ter feito – sem discussão – porque eles fizeram." Esta atitude faria com que os jornalistas fiquem submetidos a um verdadeiro "...fechamento mental."

Os abusos que ocorreram no caso da Escola de Base (e que podem estar ocorrendo em relação aos Nardoni) podem ser creditados a este "fechamento mental" dos jornalistas. Se abstrairmos todas as conclusões jornalísticas que foram tiradas dos fatos que envolveram a morte de Isabella Oliveira Nardoni, a única coisa que se pode concluir é o seguinte:

1) a criança morreu em condições suspeitas.

2) a autoria do crime ainda é desconhecida e está sendo apurada pela autoridade competente.

Em razão de sua gravidade, os fatos que envolvem a tragédia serão obrigatoriamente apurados sob uma ótica jurídica. Isto será feito com ou sem a ajuda da imprensa. A imprensa pode até dizer que um suspeito é possivelmente ou provavelmente culpado (ou inocente), mas isto não deve e não pode influenciar o julgamento técnico-jurídico de um crime. Presumo que o grande público já sabe que os abusos da imprensa também podem acabar virando notícias. Mesmo assim, em razão do que tem ocorrido no caso Nardoni, nunca é demais repetir um truísmo: os jornalistas também respondem criminal e civilmente pelos excessos jornalísticos que eventualmente cometem.



http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=480JDB006


ISABELA NARDONI
Um caso para não esquecer


Por Alberto Dines em 14/4/2008

Publicado originalmente no Último Segundo, 11/4/2008

Horror íntimo ou vocação coletiva para envergar a toga? Catarse pessoal ou sumarização da justiça? Tragédia ou circo midiático? A morte da menina Isabella Nardoni toca na emoção do país inteiro, qualquer que seja a conclusão do inquérito.

O Brasil festeiro, erotizado, apressado, partidarizado e narcisado faz uma breve pausa para pensar. Pensar e sofrer, individuar-se e abandonar a manada equalizadora. Tal como aconteceu com o menino João Hélio, despedaçado nas ruas do Rio em fevereiro de 2007, uma criança incapaz de emitir mensagens cala a estupidez reinante e avisa que é hora de incomodar-se.

A dengue, a tremenda pressão mundial no preço dos alimentos, o narcotráfico, o genocídio no Sudão, a guerra religiosa no Iraque, a repressão chinesa no Tibete e o ódio solto no Oriente Médio certamente causarão a morte de milhares ou milhões de crianças pelo mundo afora.

Mas esta criança singularizada pela tragédia, subitamente emudecida por uma bestialidade insuspeitada, despertou nossa humanidade. Numa questão de horas, converteu em órfãos a imensa nação dos adultos.

Coração partido

Ninguém se importa com a prática do infanticídio em algumas tribos indígenas, defendida com empenho por antropólogos (Folha de S.Paulo, 6/4). A cada dez horas, uma criança é assassinada, o Ministério da Saúde contabiliza, em seis anos, 5.049 mortes de meninos e meninas até 14 anos (O Globo, 6/4). Normal. A pedofilia e a prostituição infantil são encaradas com naturalidade, parte da "vida moderna", incentiva o turismo.

A queda de Isabella deu um tranco nos bons costumes. Por alguns momentos sacudiu modos e modas. Ao contrário de João Hélio, seu companheiro de infortúnio e martírio, a menina não acionou nossa compulsão legiferante. Até agora não apareceu um político oportunista para propor alguma lei absurda contra tragédias.

Até mesmo a parvoíce das autoridades incapazes de compreender a questão do segredo de justiça ou as disparatadas suspeitas vocalizadas incessantemente pela mídia antes mesmo de investigadas não conseguem sobrepor-se à soturna perplexidade que, por milagre, infiltra-se nos espíritos.

Imunizada contra a solidariedade, desumanizada por um debate partidário que na realidade só responde à pergunta "o que é que eu ganho com isso?", a sociedade brasileira sempre se perfilou no bloco do "não-me-importa". Envergonha-se de exibir o coração partido, mas agora oferece sutis indícios de sensibilização.

Sentimentos contínuos

A dúvida sobre quem matou Isabella é tão dilacerante quanto a certeza de que alguém a matou. O filosófico e angustiante por quê? começa a equiparar-se ao policialesco quem?. Os enigmas serão desfeitos, culpados logo aparecerão – inevitável. A questão que deve permanecer e atazanar as almas e os espíritos relaciona-se com a mecânica da bestialidade. Desafio destinado a não consumar-se, exercício infindável, por isso salutar tanto para religiosos como para agnósticos, para céticos e idealistas, revolucionários e conservadores. Ignorar o animal que convive com o ser humano é próprio dos bárbaros.

Isabella é uma dolorosa oportunidade para questionamentos. Nações aturdidas, empurradas por sensações, são incapazes de maturar sentimentos contínuos, comprometidos com éticas espasmódicas.

A morte de Isabella é um caso para não esquecer e aguilhoar

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=480JDB014

O que mais apavora....

sábado, 12 de abril de 2008



Escrever sobre esse assunto é mais um desabafo...desculpem.
Não tenho conseguido deixar de pensar a respeito desde que comecei a acompanhar a investigação sobre essa tragédia.

É possível que a defesa no caso de Isabella consiga estabeler a tal "dúvida razoável" por erros de precipitação por parte de alguns no trabalho de investigação?

Foi realmente descartada toda a possibilidade de uma outra pessoa ter cometido o crime?

Nessa última história sobre comentário da tia, a empolgação policial em divulgar que ela estaria num lugar em que ela diz não ter estado,acabou colocando em dúvida o juízo de valor da polícia sobre o que é uma "testemunha idônea".

Será que o problema de justiça no Brasil está no fato de que temos melhores advogados que policiais?

Não conseguir um total esclarecimento nesse caso é quase tão apavorante quanto lidar com o fato.

E não venham falar sobre os outros casos, como se o único motivo de comoção fosse o fato de Isabella vir da classe média, ser tão carismática, etc.

É claro que é mais apavorante quando a falta de educação à que todos teriam direito não pode explicar em parte o fato, como seria se um pai bêbado numa favela privado de muito desde nascido explicaria.

Mas acredito sim, que a dissimulação, (no caso de culpa do pai e madrasta), a possibilidade de uma boa defesa trabalhando em cima de erros ingênuos da polícia, é o maior pavor da sociedade, assim como a injustiça de condenar inocentes.


Cronologia

http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL386739-5605,00.html

Isabella Nardoni

quinta-feira, 10 de abril de 2008


A maneira de cobrir o caso Isabella está sendo um desafio para a imprensa.

Na tentativa de qualquer um de nós de tentar entender o que aconteceu, estupefados, há os oportunistas de plantão; a família dos pais e acusados que às vezes tenta nos dizer que é um absurdo que tenhamos pensado na pior explicação; e a polícia que a cada dia mais quer nos dizer que devemos pensar, sim, no pior.

Hoje, parece, será um dia esclarecedor...

Que os céus nos ajudem...a encarar mais essa.

Observatório da Imprensa

CASO ISABELLA NARDONI
A natureza do mal

Por Luciano Martins Costa em 7/4/2008

Comentário para o programa radiofônico do OI, 7/4/2008
As duas principais revistas semanais saíram nesta edição com capas pretas. Referência ao caso da menina Isabella Nardoni, que morreu ao cair ou ser atirada do 6º andar do prédio onde morava seu pai, na zona Norte de São Paulo.

As duas reportagens revelam o cuidado de não afirmar que o pai, Alexandre Nardoni, é o assassino. Mas deixam claro que não há outros suspeitos. É como se a imprensa procurasse se aproximar cautelosamente da possibilidade de ter que aceitar a barbárie como um fato tão próximo.

Toda a imprensa vem reproduzindo, nos últimos dias, detalhes da curta vida de Isabella, com todas as graças que costumam cercar a rotina de uma menina de classe média aos cinco anos de idade. O retrato é de uma criança dócil, inteligente e amorosa, e o cuidado dos jornais e revistas em destacar essas características prepara o contraste com o perfil de monstro do seu assassino, que deverá ocupar as páginas da imprensa nos próximos dias.

Preparar os espíritos

Já é algum avanço em relação a alguns casos anteriores, nos quais a imprensa se antecipou em julgar suspeitos, produzindo verdadeiros linchamentos morais.

A rigor, ninguém parece disposto a enfrentar a possibilidade de Alexandre Nardoni ter matado a própria filha. Embora as informações vazadas do inquérito policial, ou pelo menos aquelas escolhidas para publicação, pareçam indicar essa como a única possibilidade de esclarecimento do crime, é como se, coletivamente, os jornalistas estivessem evitando ter que descrever o inexplicável, o inadmissível.

A revista Veja parece estar preparando o terreno para superar esse limite da racionalidade. A capa da edição atual é dedicada ao mal. A revista tenta construir o que chama de uma investigação filosófica, psicológica, religiosa e histórica sobre as origens da perversidade humana. O texto antecede a reportagem sobre a morte de Isabella Nardoni.

Época insere referências históricas e filosóficas sobre o horror do infanticídio e de outras atrocidades no seu relato sobre a morte da menina. É como se a imprensa estivesse, cautelosamente, preparando o espírito dos seus leitores para a aceitação de uma sentença inaceitável. É como se estivesse preparando seus leitores para encarar a crua natureza do mal.

Drummond, Amor e Coragem

sábado, 5 de abril de 2008




Hoje acordei pensando nisso....

Amor e medo não combinam...
Nunca tinha parado pra pensar nas coisas exatamente assim.
Amor pede uma certa dose de inconsequência, exige acreditar.
Qualquer tipo de amor.
Alguma vez alguém já apostou, de verdade, em você?



Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade

Me ensina a não andar com os pés no chão

terça-feira, 1 de abril de 2008


Beatriz

Edu Lobo - Chico Buarque
1982

Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha
Será que é de louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Sim, me leva para sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ai, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se um arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida