A força do dólar

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

fonte: UOL
The New York Times

06/10/2008
Num clima de fraqueza, o dólar mostra uma força surpreendente

Mark Landler
Em Washington (EUA)

As bolsas de valores estão caindo, os mercados de crédito continuam congelados, e algumas autoridades estrangeiras prevêem que os Estados Unidos perderão seu status de superpotência financeira. E mesmo assim o dólar - o símbolo mais visível do poder financeiro americano - está subindo.

Na semana passada, o dólar subiu para o seu nível mais alto em mais de um ano em relação ao euro, ao dólar canadense e a várias outras moedas. Ele aumentou até mesmo depois que o plano de resgate do governo Bush para os bancos falhou no Congresso e logo depois da divulgação de um desastroso relatório de desemprego na sexta-feira (3).

O aumento do dólar parece sem sentido. Situações anteriores de pânico financeiro - na Ásia, Rússia e México - devastaram as moedas locais, à medida que os investidores estrangeiros saíram em debandada. O baht tailandês, o rublo russo e o peso mexicano foram barômetros seguros do nível de confiança internacional em relação a esses mercados emergentes. Conforme a confiança entrou em colapso, o mesmo aconteceu com as taxas de câmbio.

Mas o dólar não é qualquer moeda. Como moeda de reserva mundial, ele se beneficia com o tumulto global, mesmo ele tenha se originado nos Estados Unidos.

"É irônico que, apesar de termos acabado de fazer uma bagunça enorme, a resposta internacional seja investir mais dinheiro em nós", diz Kenneth S. Rogoff, professor de economia de Harvard. "Eles não têm certeza de onde mais podem ir".

Em 17 de setembro, quando o colapso do Lehman Bros. fez com que os mercados de ações em todo o mundo cambaleassem, os investidores estrangeiros correram para comprar títulos do tesouro americano, baixando seus lucros para quase zero. Isso refletiu o fato de que os investidores estavam se juntando em prol da segurança do governo dos EUA, mesmo que isso significasse que os seus investimentos iriam perder dinheiro com o ajuste inflacionário.

De fato, o apelo do governo dos Estados Unidos reflete uma falta de melhores opções. Muito foi feito durante os últimos anos em relação ao aumento do euro como rival do dólar. Mas a Europa dificilmente parece uma aposta segura agora, com sua própria crise se desenvolvendo.

E diferentemente dos americanos, os europeus não elaboraram uma resposta coordenada para os problemas financeiros, apesar de um encontro de líderes durante o fim de semana convocado pelo presidente francês Nicolas Sarkozy.

Os bancos japoneses estão bem mais estáveis do que os dos Estados Unidos ou Europa, o que fez do iene a única moeda principal a aumentar em valor em relação ao dólar nas últimas semanas. Mas o Japão, e a Ásia como um todo, está enfraquecendo, juntamente com a economia global.

"É como se o mundo estivesse cheio de gente doente", diz Ashraf Laidi, analista chefe de câmbio na CMC Markets, uma firma de câmbio. "Os Estados Unidos foram os primeiros a ir para o hospital, e foram para a UTI. E então outros países começaram a sentir o arrepio, e agora estão sendo internados."

Os negociantes de câmbio, diz Laidi, estão apostando que os Estados Unidos serão os primeiros a se recuperar, porque foram os primeiros a cair. Essa percepção ganhou terreno com os problemas crescentes na Europa, onde mais bancos estão falhando a cada dia, e a Alemanha e a Irlanda garantiram todos os depósitos num esforço para evitar uma corrida aos bancos.

O dólar também foi impulsionado pelo Federal Reserve [Banco Central Americano], que montou uma rede de troca de câmbio com o Banco Central Europeu, o Banco do Japão, o Banco da Inglaterra e outros bancos centrais para fornecer dólares para bancos estrangeiros. Agindo numa escala sem precedentes, o Fed expandiu essas linhas de câmbio de US$ 330 bilhões para US$ 620 bilhões.

A resistência do dólar em meio a esse turbilhão é mais do que uma novidade econômica. Enquanto ele conseguir reter seu valor, a força do dólar ajudará os Estados Unidos a bancar os US$ 700 bilhões do pacote de ajuda aos bancos, porque o dinheiro virá de títulos vendidos em grande parte para investidores estrangeiros.

Uma moeda em alta também é capaz de deter a inflação - uma grande preocupação do Fed antes da crise. Uma inflação menor ajudaria o Fed a diminuir as taxas de juros, coisa que a instituição está considerando.

Mas um dólar mais forte tem um lado ruim: faz com que as exportações americanas fiquem mais caras nos mercados estrangeiros, o que poderia comprometer uma das poucas partes do motor econômico americano que ainda estão funcionando.

A maior qualidade do dólar, dizem os especialistas, é ser um símbolo perene do valor de crédito dos Estados Unidos. Sua estabilidade sugere que os Estados Unidos ainda são vistos como um risco seguro.

"Conversando com investidores, políticos e acadêmicos em todo o mundo, eles têm essa confiança, não apenas no nosso sistema econômico, mas no nosso sistema político", disse Rogoff. "Eles parecem ter mais confiança que nós na nossa capacidade de resolver problemas."

Essa confiança tem limites, é claro. Se os estrangeiros acabarem perdendo-a, dizem os especialistas, eles procurarão vender seus títulos do débito americano. Assim, o dólar cairia e o custo da ajuda aumentaria.

"Somos responsáveis pelo câmbio global, e se fizermos pouco caso disso, haverá conseqüências a curto e longo prazo", diz Edwin M.
Truman, ex-oficial do Departamento de Tesouro.

Truman acabou de voltar de um tour no exterior, durante o qual ele disse que as autoridades estrangeiras expressaram frustração em relação ao caos político em Washington. Mas ele disse que quando visitou o Banco Central da Austrália, não percebeu nenhuma sensação de pânico em relação ao dólar.

Antes que a crise entrasse em sua última fase, com a falência do Bear Stearns em março, o dólar atravessava uma longa trajetória de queda em relação ao euro e outras moedas. Isso refletia as preocupações internacionais em relação à deterioração da economia americana e o imenso déficit de comércio.

Quando a crise arrefecer, os investidores irão se concentrar nesses assuntos novamente, e o dólar irá retomar seu curso de queda, prevê Laidi. Mesmo que o pacote de ajuda consiga acalmar o mercado, ele irá expandir imensamente o débito dos Estados Unidos - uma causa perene de enfraquecimento do dólar.

Por enquanto, todavia, a crise global continua sendo um tônico para a moeda do país no qual ela começou.

Tradução: Eloise De Vylder

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